domingo, 15 de novembro de 2009

Os “malditos” e os vassalos

Lucidez analítica e coragem argumentativa não são qualidades que geralmente possam ser atribuídas àqueles que têm se posto na imprensa como observadores do poder. Com exceção de meia dúzia de “malditos” (como são conhecidos os que de fato se expõem na mídia local), raramente lemos ou ouvimos algo que mereça reflexão. Às vezes até mesmo os editoriais chegam a lembrar a clássica redação do aluno da primeira carteira elogiando a professora, tamanha a falta de profundidade das “análises”, a eloquência das palavras e a subserviência em relação a quem manda.

Nas conversas informais não são poucos os que têm solução para os problemas da cidade e os que apontam erros dos antigos e dos atuais administradores, mas poucos são os que se propõem a ir à imprensa discutir com a comunidade. É que a exposição é um ato de coragem, um ônus que poucos se dispõem a pagar. Numa pequena cidade um texto mais incisivo, que mexa com interesses ou critique atitudes, pode gerar históricas rivalidades.

Alguns articulistas escrevem mil trivialidades, enchem os jornais de palavras que jamais serão lidas, em “análises” que se confundem com a própria propaganda oficial. Outros passam o que seriam suas ideias em trocadilhos impossíveis de entender e por meio de gracejos, sem dizer coisa com coisa, menosprezando a inteligência do leitor (e as regras de bom gosto). Na rádio, muitas vezes os entrevistadores usam seus convidados como mera “escada” para dizer o que eles, entrevistadores, desejam, de acordo com o momento que vivem com o poder municipal.

Nesse ambiente pouco animador, repleto de opiniões servis, as manifestações do ex-vereador Hélio Malheiros (DEM) e a participação do professor Mauro Cardin (PR) em recente audiência do orçamento participativo ganham destaque. Cardin ressaltou a postura de representantes da administração municipal nas reuniões com a população, que ele entende estar no plenário apenas como mera espectadora de “sessões de autoelogio”. O filiado do PR chegou a insinuar que a coordenação de tais encontros sequer cumpre o protocolo de bons modos.

Helio Malheiros, em reportagem ao JC, sugeriu a criação de uma ouvidoria na Prefeitura para que “houvesse maior interatividade entre a administração e a população”. A comunidade não se sente presente na Prefeitura. A pífia presença dos cidadãos nas sessões da Câmara, nos conselhos e nas reuniões abertas não mostra outra coisa. Na FAI a situação não é diferente.

Bem sabemos que a crítica causa mal-estar, mas ela é necessária, também porque temos atualmente na cidade uma oposição dispersa, enfraquecida, que sequer tem conseguido resolver suas mazelas. E o que pode haver de mais inconveniente do que um governo que se coloca como absoluto? O que pode haver de pior do que editoriais que colocam a cidade como um Éden cravado na Alta Paulista quando a realidade mostra que isso está longe de ser verdade?

Quem ocupa o poder público não pode estar alheio às “vozes da rua”. Como afirma Foucault, as ideias são tão pragmáticas quanto às ações, porque são elas que levam à ação.

Nenhum comentário: