sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Falta de diálogo

O debate com a população não tem sido uma prática comum entre os que ocupam cargos na administração municipal, talvez por se sentirem mais con-fortáveis em usar eventos oficiais ou entrevistas acertadas para, mais do que responder às críticas, atacar os cidadãos que se arriscam em fazê-las. Ao adamantinense comum resta, portanto, o diálogo solitário e o risco de ser tratado como transgressor por quem, rodeado(a) de privilégios, imagina-se acima dos que pagam os impostos que lhe permitem tanta autoconfiança. Mas, na semana passada, neste mesmo jornal, algo diferente ocorreu, passando a ideia de que pode haver uma mudança de atitude de quem se regozija com o fato de se encontrar em tão confortável posição.

A população procura entender o que ocorre na Prefeitura, na Câmara e na FAI e é comum surgirem questionamentos sobre as atitudes dos que governam a cidade. Não cabe ao cidadão comum, trabalhador, cumpridor dos seus múltiplos deveres diários, buscar as informações sobre o poder público. Cabe, sim, às assessorias desses órgãos, remuneradas para tal função, prestarem os necessários esclarecimentos à comunidade. No entanto, o material produzido para a imprensa apresenta apenas características de propaganda e não esclarece os problemas que mais interessam à população.

Em 24 de janeiro o Jornal da Cidade estampou a manchete: “Arrecadação da FAI cai pelo 3º ano consecutivo”. Pelo que se sabe, não houve interesse por parte da assessoria em rebater ou explicar tal informação. Especula-se há algum tempo que o número de alunos e a receita da FAI vêm diminuindo. Cabe ao cidadão comum procurar a instituição para saber o que está acontecendo, ou seria função da assessoria explicar tais questões?

As “vozes das ruas” ainda se perguntam se era necessário pagar quase 80 mil reais para fazer o site da faculdade. O questionamento ganha relevância, pois a instituição tem um curso ligado à área. Além de evitar o gasto, a criação do site pela FAI serviria de propaganda para a instituição. E o marketing da faculdade? O slogan “Quem cursa a FAI, [sic] tem qualidade de vida” parece não deixar clara a marca de uma instituição de ensino, ou o que quer que seja. O que levaria os estudantes a se sentirem estimulados com tal propaganda?

Também não está evidente se existe algum projeto de reestruturação dos cursos de licenciatura ou estudos sobre o impacto das bolsas concedidas ao funcionalismo no orçamento da Autarquia. Sem contar a situação do curso de Direito, que gerou muitas informações desencontradas. Não cabe à direção e à assessoria esclarecerem essas questões, informarem a população sobre o que ocorre?

O acúmulo de cargos pode explicar parte da dificuldade, mas não satisfaz os cidadãos, que cobram um posicionamento mais próximo da instituição com a cidade, principalmente por meio do debate franco, já que o destino da FAI, em parte, está ligado ao da comunidade.
Por fim é preciso dizer que, como se sabe, utilizam-se expressões como “vozes das ruas”, “o que os adamantinenses não entendem” e outras mais para se remeter à ideia de opinião pública e aos questionamentos que ocorrem na população. Ao se empregar a segunda dessas expressões num artigo de opinião recentemente, esperava-se que nenhum educador de nossa academia, especialmente na área de comunicação, a entendesse no seu sentido literal.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O que os adamantinenses não entendem...

Todo início de ano a imprensa local faz previsões sobre a cidade. Recentemente um editorial já projetou 2011 repleto de boas notícias para os adamantinenses. Não se sabe se é o espírito cristão ou o estímulo oficial o que deixa esse segmento de nossa imprensa otimista nesta época, mas ficou claro que o jornal aproveitou a oportunidade para, mais uma vez, elogiar quem está no poder.

A simples transcrição de informações, na maioria das vezes oficiais, já aborrece grande parte dos que leem jornal em Adamantina. Nas raras vezes em que erros são apontados há a sensação de que o redator o faz cons-trangido, pois tece longos elogios à secretaria implicada e deixa claro que o problema não só é pontual como também logo será resolvido. Fica sempre a impressão de que tal veículo de informação não quer deixar descontente o seu maior anunciante.

Os adamantinenses não entendem, por exemplo, por que os assuntos referentes à FAI nunca são tratados com a devida importância. Há pouco tempo, um editorial classificou como “central de boatos” aqueles que, sem informações precisas, “discutem nas esquinas” os problemas da instituição. Se existem “boatos”, fica evidente a falta de esclarecimentos, seja por parte da imprensa, seja por parte da assessoria da faculdade, que raramente presta esse serviço. Possíveis contratações irregulares, falhas em concurso, gastos excessivos com site, diminuição de alunos e problemas financeiros são questões que ficaram à margem da imprensa em 2010.

A postura do legislativo é outro assunto que os adamantinenses não entendem. Causou constrangimento na reeleição do presidente da casa, conhecido defensor dos projetos do executivo, o voto de uma vereadora que sempre foi crítica em relação à administração. É também por esse tipo de incoerência que, dos nomes que se discutem para ser candidato a prefeito em 2012, nenhum vem da Câmara, ainda que nela existam edis já no segundo mandato.

Mesmo com a candidatura da situação “lançada” em cadeia de rádio, a oposição não consegue articular seus nomes. Ex-prefeitos, ex-secretários, ex-diretores, atuais mandatários, ninguém ainda conseguiu juntar meia dúzia de adeptos. Como nos últimos anos essas pessoas estiveram alheias aos importantes temas locais, agora fica estranho desejarem convencer a opinião pública de que lhes importa aquilo que por tantos e tantos anos não lhes importou.

Não entendemos também como nenhuma autoridade questiona por que Adamantina tem um dos combustíveis mais caros da região. Cidades próximas como Dracena, Junqueirópolis, Lucélia e Osvaldo Cruz têm preços muito melhores. Ou por que, mesmo com inúmeras reclamações, a temporização dos semáforos ainda não foi adequada à realidade do trânsito.

Todas essas questões mostram a incoerência entre o discurso de nossos políticos e os seus atos; o que não deixa de ser uma manifestação de desprezo pela inteligência dos cidadãos. Finalmente, vale perguntar: onde estão nossas lideranças para cobrar um pouco mais de empenho de nossos gestores públicos para melhorar a vida dos munícipes?

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O outro lado do sucesso da Expoverde

Quem passou pelo poliesportivo na última semana percebeu que a Expoverde se tornou a maior, e talvez a única, festa popular de Adamantina. Razoável número de barracas, envolvimento de diversos setores da sociedade, bom con-sumo e grande comparecimento da população. Mas o sucesso do evento mos-trou problemas de organização que talvez as belas imagens do recinto lotado não deixaram evidentes.

O grande diferencial do evento é sua gratuidade. As milhares de pessoas que entram no local, somadas às que ficam de fora por medida de segurança, quan-do os portões são fechados, geram desconforto em quem é proibido de entrar. O exagerado número de brigas mostrou que a segurança não deve ter recebido a devida atenção, nem mesmo no interior do recinto. Por sorte não ocorreram problemas mais graves, já que não houve revista todos os dias.

A desorganização das filas foi outro problema, tanto na entrada como na própria festa, gerando insatisfação aos que ficavam para trás enquanto outros passavam na frente, seja por “esperteza”, seja por “privilégio” concedido por aqueles que deveriam organizá-las. Não é de hoje que tumultos ocorrem por problemas dessa natureza.

Ficou claro também que não houve restrição à venda e fiscalização em rala-ção ao consumo de bebidas alcoólicas para menores. Essa permissividade se deu em todos os ambientes do recinto. Um evento organizado pela administra-ção pública deveria dar especial atenção a esse fato, até mesmo realizando campanhas educativas no local, envolvendo o Creres, o núcleo de psicologia da FAI e a sociedade. Mas, pelo que seu viu, não houve nenhuma preocupação nesse sentido.

A prática de rodeio na Expoverde também é contraditória, já que a proposta do evento é discutir a sustentabilidade e a cultura cidadã. Existem inúmeras críticas em relação a essa modalidade de “esporte”, principalmente quanto ao tratamento dado aos animais. O interesse de alguns não deve sobrepujar a ideia mestra do evento de, como o próprio nome diz, privilegiar o verde e todos os significados que essa palavra tem nos dias atuais. O que se notou foi o entrete-nimento e o estímulo ao consumo, e quase nada de “cultura cidadã”. O lado mercadológico teve maior expressão este ano.

De modo geral, a população de Adamantina aprova a Expoverde, ainda mais quando a cidade é tão carente de atrações populares e onde muitos não podem pagar os altos preços cobrados pelo RTA em junho. Mas o bom compareci-mento dos munícipes não deve apagar os problemas da festa e a mudança de foco ocorrida este ano. Segurança, respeito à população e conscientização so-cioambiental devem ser a meta dos organizadores. Será que, a despeito do su-cesso da festa, essa meta foi alcançada em 2010?

domingo, 23 de maio de 2010

Cidade do silêncio

A inércia e o silêncio daqueles que são, ou almejam ser, os protagonistas da vida pública local é perturbador. O “Caso Sabesp” é o mais recente exemplo da nula participação dos “eternos candidatos” e daqueles que, mesmo ocupando cargos eletivos ou administrativos, não justificam os votos que receberam ou a confiança de que são depositários. O resultado da votação na Câmara já era esperado. Cada vereador justificou sua escolha e deixou claro de que lado está. Alguns até “explicaram” seu voto em favor do prefeito afirmando que os 85% de votação no último pleito legitimam as propostas do executivo. Fingem não se lembrar das circunstâncias que envolveram a eleição de 2008.

Não menos estarrecedora é a posição do edil que disse não precisar justificar a ninguém o seu voto. Seria demais lembrá-lo de que ele representa a cidade e de que sua postura na área pública é de interesse coletivo? Cabe também a seu partido prestar esclarecimentos à população. Ao que se sabe, a presunçosa fala do vereador causou um certo constrangimento entre os cidadãos presentes à sessão.

O debate não ganhou maior visibilidade devido à pífia participação daqueles que se insinuam como candidatos em 2012. Na verdade, essas mesmas pessoas afrontam a população quando saem nos jornais afirmando-se aptas a ocupar o mais alto cargo do município. Omissas e sem se engajarem no debate público, ancoram seus discursos em secretarias e vereanças do passado. O que as fazem acreditar que estão preparadas para governar a cidade?

Até agora aqueles que querem ser prefeito e estampam seus rostos em presunçosas entrevistas têm passado longe dos jornais e dos microfones quando o assunto requer posicionamento. Não se sabe o que pensam sobre o contrato com a Sabesp, os problemas da FAI, o trânsito, a imprensa, as dificuldades da Santa Casa. Amam a cidade de quatro em quatro anos e aparecem de vez em quando nas rodas de café, onde suas poucas ideias se perdem em conversas vazias.

Esse silêncio colabora para deixar boa parte de nossos atuais representantes cada vez mais acomodada e letárgica, quando não mais ousada e cínica, pois sabe que não será contestada. O caso do vereador que diz não precisar justificar seu voto é um excelente exemplo.

Esses poderes, quase ilimitados, estimulam atuais mandatários a acreditar que tudo podem: ajeitar empregos para parentes e futuros parentes, arranjar concursos, perseguir dissidentes, não responder à pequena parte da imprensa que os questiona e a, quando se disporem a responder, fazê-lo com ofensas pessoais e ameaças. Alguns, respaldando-se em seu alto cargo na administração (e por uma incrível omissão da chefia), sentem-se seguros o suficiente, por exemplo, para não darem aulas e não aplicarem provas na faculdade. Com essas e outras arbitrariedades denigrem ainda mais a imagem da Academia frente àqueles que mais deveriam prezar: os alunos. Temos entre nós, enfim, uma triste combinação de desmando e omissão.

A população, mesmo não estabelecendo confronto com ninguém, sabe não só da postura de membros do alto escalão, como também que cabe ao prefeito fazer as mudanças necessárias e punir os desvios; só não entende por que ele não o faz.

domingo, 18 de abril de 2010

Vazio político

As últimas importantes discussões da área política na cidade revelaram a pouca habilidade do executivo adamantinense em discutir projetos de interesse público e em dialogar com a sociedade e grupos organizados. A instabilidade da FAI e a conduta da administração municipal na questão Sabesp são claros exemplos de que a opinião pública pouco importa àqueles que hoje administram o município.

Ao se afirmar que possíveis falhas ocorreram na condução da Academia, esperava-se que a equipe do prefeito adotasse medidas corretivas, pois o que está em jogo é o ganha-pão de muitas famílias e, até certo ponto, o futuro da cidade; mas não se têm notícias de que algo tenha mudado na administração da faculdade.

Se as entrevistas contraditórias do prefeito e do diretor-geral da FAI de algum tempo atrás renovaram a impressão da sociedade de que algo não vai bem na vida pública de Adamantina, o mesmo receio se dá na questão do saneamento básico.

Com a rendição às condições e ao autoritarismo da Sabesp, com a recusa de estudar o assunto com mais profundidade e de ouvir a população e ao eliminar a possibilidade de licitação, o executivo deixa ainda mais dúvidas sobre sua capacidade para conduzir as grandes questões da cidade. A impressão que se tem é a de que o município vive um vácuo político-administrativo. A população, diante de tudo, se vê excluída e sente sua relação com o governo municipal cada vez mais distante.

Diante de toda essa ineficiência e insensibilidade, percebe-se o surgimento de um novo estado de espírito em relação à atual administração que, aos poucos, começa a ganhar nomes e a afinar o discurso. Tais nomes não constituem propriamente uma oposição, porque quando se fala em oposição em Adamantina, grosso modo, pensa-se nas pessoas que participaram de outras administrações e que, por não mais ocuparem cargos importantes, se opõem sistematicamente ao governo; o que não é o caso.

Diga-se de passagem que, como era de se esperar, mais uma vez, uma ação em favor da causa coletiva em Adamantina se dá praticamente sem a participação de futuros pretendentes ao quinto andar, ou seja, sem a ajuda de ex-prefeitos, ex-vereadores, ex-secretários, ex-pré-candidatos e outros mais que só estão à disposição da cidade de quatro em quatro anos, meses antes da eleição.

Esse grupo de descontentes, mesmo sem querer, acaba sendo porta-voz da população que, aos poucos, vai descobrindo que não está sendo bem representada. E é ao clamor desse estado de insatisfação coletiva que o grupo contestador da apatia dos políticos ora no poder afina seu discurso e supre a omissão das “estrelas” que certamente ressurgirão em 2012 apregoando imenso amor pela cidade.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Contradições sobre a Academia

No último sábado, a Folha Regional publicou entrevista em que o prefeito Kiko Micheloni falou sobre o assunto que mais inquieta os adamantinenses: os problemas da FAI. Já era tempo de esclarecimentos oficiais, visto que a sociedade e o legislativo discutem o assunto há meses. O jornal sediado em Flórida Paulista saiu na frente.

As palavras do prefeito confirmam o que se comenta há algum tempo, mas não traz esclarecimentos objetivos e não autorizam qualquer expectativa de que os problemas sejam efetivamente resolvidos. A entrevista tende, aliás, a deixar a população mais apreensiva.

Segundo Kiko Micheloni a má situação da autarquia é “preocupante e real”, palavras que contradizem o próprio diretor geral da autarquia Roldão Simione que, há apenas um mês, no jornal Diário do Oeste, afirmou que a faculdade estava nos trilhos e que não havia com o que se preocupar. Não fosse absurdo, seria de se imaginar que, na ocasião, o próprio diretor não estava, digamos, bem informado sobre a real situação da autarquia que administra.

Um dado importante suscitou questionamentos. Se o número de alunos é igual ou maior do que nos anos anteriores, como disse o prefeito, por que a deterioração das contas da autarquia? Como se sabe, anos atrás, com semelhante quantidade de alunos, a FAI conseguia não só pagar suas contas como também acumular (expressivos) recursos financeiros; recursos que, aliás, foram integralmente utilizados pela atual diretoria.

Fala-se bastante sobre a enorme quantidade de bolsas de estudo. Mas a decisão de conceder bolsas integrais a todos os servidores públicos municipais e seus familiares, por exemplo, não foi precedida de detalhado estudo sobre o consequente impacto financeiro? Se não foi, que esperança a população pode ter em relação às medidas que o prefeito disse que serão tomadas? (e que, a bem da verdade, não foram explicadas quais sejam).

O prefeito afirmou que tomará decisões realistas, e não políticas, mas não acena com modificação nos altos cargos, mesmo se mostrando ciente de que possa ter havido “falhas administrativas”. Será que na esfera pública não se observam nem mesmo os fundamentos mais básicos do mundo administrativo?

Eliminação de desperdícios, cortes em benefícios e auxílios, como hospedagem, combustível e alimentação, estudo detalhado sobre a evasão nos cursos, penalidade a professores que faltam em demasia ou se atrasam e que acabam comprometendo a qualidade dos cursos, são medidas de grande impacto e com retorno rápido; cobrança judicial de mensalidades em atraso, revisão na concessão de bolas, assim como responsabilização de administradores, são medidas importantes nesse tipo de situação.

As críticas em relação ao problema não devem ser entendidas como políticas e pejorativas. Todo cidadão de mentalidade sadia torce para que a FAI volte a ter destaque e se torne referência na região. Não se pode querer que a sociedade fique alheia a tais acontecimentos, mesmo porque o sucesso da FAI interessa a cada adamantinense.

Não se pode esquecer também que tanto prefeito quanto diretores de autarquia, não obstante toda capacidade pessoal e mérito de que possam ser detentores, são, no que tange à Administração Municipal e à FAI, meros representantes dessa mesma população.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Por trás das cortinas

Algum desavisado que tome a imprensa local por fomentadora dos debates na cidade pode acreditar que vivemos uma calmaria em Adamantina. Uma passada de olhos pelos nossos jornais chega a dar a impressão de que os problemas do município se resumem a asfalto, trânsito, entulhos em terrenos e uma ou outra “fatalidade” de ocasião.

Adamantina tem cinco jornais, mas quantos têm a coragem de tratar do que é relevante em termos de vida pública, de atuação política? Assuntos inexpressivos, enorme espaço para publicidade, editoriais evasivos são a constante. Na falta de outras futilidades, para preencher espaço, há pouco tempo Adamantina chegou a ser santificada num dos jornais como um “celeiro de novos talentos” e como a cidade da “população mais solidária do Brasil”. Abusa-se da inteligência do leitor. Diante da expressiva verba oficial e das necessidades de comunicação da Academia, não vamos nos surpreender se um dia destes nos depararmos com um editorial com o título “Pra frente, Adamantina!”, ao modo dos piores tempos da ditadura militar.

Não se encontram nos jornais assuntos incômodos sobre o Executivo e a Academia. Isso fica claro no caso da “intervenção branca na FAI”. Há tempo se discute em Adamantina o risco da faculdade vir a ter sérios problemas financeiros. Diminuição no número de alunos, aumento exagerado de bolsas de estudo, elevadas e desnecessárias despesas de hospedagem e locomoção com professores de outras cidades seriam as principais razões. Se as finanças da faculdade vêm se deteriorando vertiginosamente como comenta a opinião pública, a população precisa saber, não só porque se trata de uma autarquia municipal, mas também porque dela a cidade depende. No entanto, nossa imprensa se limita a repassar sumárias e esquivas informações oficiais. Num dos jornais, o assunto foi veiculado por uma minúscula nota em espaço secundário, de forma até constrangedora.

Por que não se discute a (verdadeira) situação da FAI? Em recente problema ocorrido num concurso, que gerou sérias críticas a dirigentes da instituição, uma assessora afirmou que medidas foram tomadas e estavam disponíveis no site. Segundo ela, não cabia à FAI levar tais informações aos jornais. Se as pessoas públicas não prestam contas àqueles que as elegeram, cabe a imprensa desempenhar tal função. Pelo menos é assim que funciona em todas as sociedades do mundo desenvolvido.

Em Adamantina insinuam-se casos de nepotismo, corporativismo e perseguição, assim como não faltam críticas em relação a pretenso descumprimento de jornada de trabalho por parte de médicos nos postos de saúde. A omissão da imprensa colabora para que tais histórias se legitimem, num município em que há seis anos, quem agora está no poder, ganhou a preferência da população defendendo a transparência.

Por que a imprensa não diz, por exemplo, que estando em recuperação, o chefe do executivo despachou em casa durante várias semanas? Por que não se questiona a razão da vice-prefeita não ter espaço na Administração? (continuamos com a antiga prática da perseguição política?) Por que a população não foi informada de que o “deputado estadual da região”, que Adamantina ajudou a eleger com amplo apoio do professorado, votou contra o aumento salarial a todos os professores?

A população adamantinense não sabe o que ocorre por trás dessa cortina de silêncio. Não entende a situação da FAI, as intrigas do poder municipal, as desavenças entre vereadores, que tantas vezes usam a tribuna não para discutir projetos, mas para disputas pessoais.

Raras vezes os jornais assumem uma posição. Quando há algum lampejo questionador, é mais uma manifestação pessoal de quem se sente prejudicado pela Administração do que uma legítima análise em favor do bom andamento das coisas.

Não é de hoje que é assim. A pomposa verba de publicação de atos oficiais do Executivo dita as regras na informação em Adamantina, o que nos leva a acreditar que Millôr Fernandes tenha razão ao dizer que “o dinheiro fala e também manda calar a boca”.

domingo, 15 de novembro de 2009

Os “malditos” e os vassalos

Lucidez analítica e coragem argumentativa não são qualidades que geralmente possam ser atribuídas àqueles que têm se posto na imprensa como observadores do poder. Com exceção de meia dúzia de “malditos” (como são conhecidos os que de fato se expõem na mídia local), raramente lemos ou ouvimos algo que mereça reflexão. Às vezes até mesmo os editoriais chegam a lembrar a clássica redação do aluno da primeira carteira elogiando a professora, tamanha a falta de profundidade das “análises”, a eloquência das palavras e a subserviência em relação a quem manda.

Nas conversas informais não são poucos os que têm solução para os problemas da cidade e os que apontam erros dos antigos e dos atuais administradores, mas poucos são os que se propõem a ir à imprensa discutir com a comunidade. É que a exposição é um ato de coragem, um ônus que poucos se dispõem a pagar. Numa pequena cidade um texto mais incisivo, que mexa com interesses ou critique atitudes, pode gerar históricas rivalidades.

Alguns articulistas escrevem mil trivialidades, enchem os jornais de palavras que jamais serão lidas, em “análises” que se confundem com a própria propaganda oficial. Outros passam o que seriam suas ideias em trocadilhos impossíveis de entender e por meio de gracejos, sem dizer coisa com coisa, menosprezando a inteligência do leitor (e as regras de bom gosto). Na rádio, muitas vezes os entrevistadores usam seus convidados como mera “escada” para dizer o que eles, entrevistadores, desejam, de acordo com o momento que vivem com o poder municipal.

Nesse ambiente pouco animador, repleto de opiniões servis, as manifestações do ex-vereador Hélio Malheiros (DEM) e a participação do professor Mauro Cardin (PR) em recente audiência do orçamento participativo ganham destaque. Cardin ressaltou a postura de representantes da administração municipal nas reuniões com a população, que ele entende estar no plenário apenas como mera espectadora de “sessões de autoelogio”. O filiado do PR chegou a insinuar que a coordenação de tais encontros sequer cumpre o protocolo de bons modos.

Helio Malheiros, em reportagem ao JC, sugeriu a criação de uma ouvidoria na Prefeitura para que “houvesse maior interatividade entre a administração e a população”. A comunidade não se sente presente na Prefeitura. A pífia presença dos cidadãos nas sessões da Câmara, nos conselhos e nas reuniões abertas não mostra outra coisa. Na FAI a situação não é diferente.

Bem sabemos que a crítica causa mal-estar, mas ela é necessária, também porque temos atualmente na cidade uma oposição dispersa, enfraquecida, que sequer tem conseguido resolver suas mazelas. E o que pode haver de mais inconveniente do que um governo que se coloca como absoluto? O que pode haver de pior do que editoriais que colocam a cidade como um Éden cravado na Alta Paulista quando a realidade mostra que isso está longe de ser verdade?

Quem ocupa o poder público não pode estar alheio às “vozes da rua”. Como afirma Foucault, as ideias são tão pragmáticas quanto às ações, porque são elas que levam à ação.

sábado, 26 de setembro de 2009

Madame Lulu

Nesta semana esteve em Adamantina uma cartomante (muito parecida com Luciana Gimenez) cujas previsões políticas lhe renderam o título de maior autoridade brasileira no assunto. Diante de tais atributos (principalmente do primeiro), resolvi procurar a moça para saber as respostas sobre algumas coisas estranhas que andam acontecendo na cidade.

Chegando à elegante residência onde ela estava hospedada, precisei apertar a campainha várias vezes. Depois que o portão eletrônico abriu, apareceu um sujeito afeminado que foi logo perguntando: “Você tem hora marcada com madame Lulu?” Como me mostrei desentendido, ele disse: “É isso mesmo moço, se não tem, cai fora!” Mas uma voz aveludada veio da casa: “Dézinho, deixe o cronista entrar!”

Constrangido, acompanhei o “delicado” rapaz até a sala da famosa vidente. Madame Lulu pediu-me que não me importasse com Dézinho, pois ele estava perturbado com o caso do papagaio. Ela explicou: “Para ficar livre do papagaio do vizinho, que só vivia falando palavrão, Dézinho trancou o bicho no freezer durante três dias”. Quando perguntei se o loro tinha virado picolé, ela respondeu: “Não, quando abrimos o freezer, ele começou a gritar: “Viva a Caiuá!, viva a Caiuá!” Como se vê, a mulher nem bem chegou e já sabe direitinho a piada que rola na cidade...

Quebrado o gelo, Luciana Gimenez, digo, a bela cartomante, pediu que eu cortasse um baralho colorido, escolheu uma carta e disparou: “Eles deveriam saber que no dia da árvore precisariam plantar pés de arruda, comigo-ninguém-pode, espada de São Jorge e outras do gênero, e não patas-de-vaca!” E, apontando uma foto dos plantadores de pata-de-vaca completou: “Do jeito que os oposicionistas populistas estão mandando maus fluidos para essa gente, a escolha dessa espécie foi infeliz...”

Enquanto dizia, Lulu mostrava a foto do Diário do Oeste de terça-feira em que um alcaide, cercado de afetuosos auxiliares, enterrava uma muda. A vidente suspirou, buscou ajuda nos astros e previu: “Com esses olhares ternos das pessoas em volta, logo logo essas mudas virarão duas enormes árvores!” Disse isso visivelmente emocionada (Madame confessou-me depois, quando já estávamos íntimos, que uma das coisas que mais a emocionam é o jeitinho angelical das pessoas quando querem agradar. Ela me olhou profundamente e perguntou: “Você já imaginou como tudo seria diferente se essa também fosse a expressão desta gente ao lidar com os munícipes e com os subordinados?!...)

Percebendo a sabedoria de Lulu, perguntei sobre a candidatura de Cleusa da Pastoral em 2012. Depois de mexer o baralho, Lulu retirou uma carta e sentenciou: “Nem mesmo o depoimento do homem sem cinta, de camisa vermelha e que gosta de falar sobre jacarés vai impedir que a valente petista seja eleita prefeita em 2012”. Sabendo que algumas pessoas não iriam gostar da previsão, a bela desafiou: “Por que os políticos que não concordam com a candidatura da vereadora não fazem uma pesquisa de opinião com o nome dela para prefeita?”

Entusiasmado com as previsões de madame Lulu, comecei a imaginar a cara daqueles que andam dizendo que sou “vidente” no dia em que for realizada a pesquisa de opinião, proposta pela cartomante. Nisso a sensual voz de Lu me despertou de mais esse devaneio: “Você prefere Black Label com tônica ou com soda?” O que aconteceu em seguida eu conto depois... Fui.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Artigos e discriminação em Adamantina

A intensa liberalidade do mundo atual cria a falsa impressão de que os direitos individuais estão garantidos e que qualquer manifestação contrária não ganhará meia dúzia de adeptos. Mas a vigilância sobre o comportamento social se mantém como prática institucionalizada; a defesa do toque de recolher e a proibição de fumantes nos estabelecimentos comprovam a tese.

Em recente artigo um líder religioso escreveu no jornal Diário do Oeste: “O movimento homossexual continua a impulsionar suas ações, confirmando tragicamente a descida cada vez mais intensa para dentro da espiral mortal [...] A Suprema Corte de Iowa anulou a proibição do casamento gay em abril de 2009. É degradante! É o fim de uma civilização exemplar e decente.”

As palavras do religioso lembram os discursos de regimes totalitários, que defendiam uma concepção de sociedade perfeita e de homens perfeitos. Para esse gênero de discurso, qualquer comportamento contrário seria degradante. Anula-se o indivíduo e padroniza-se o pensamento. Se trocar homossexual por judeu, o artigo de Adamantina muito se assemelha à propaganda nazista.

A presente questão não deve centrar-se apenas no debate da homossexualidade, e sim no direito do indivíduo de escolher, por meio da própria racionalidade, o que entende ser melhor para sua vida. O religioso usa a liberdade de expressão para negar a liberdade sexual, ato íntimo e que diz respeito apenas à vida privada. Classificar como trágico e degradante o movimento homossexual é uma opinião que deve ser reservada a si mesmo, e não imposta a todos os adamantinenses que buscam um jornalismo tolerante e pluralista.

Daniele Hervieu-Léger, socióloga francesa, escreveu recentemente que “uma instituição religiosa não pode prescrever aos fiéis práticas e comportamentos que os conduziriam à contravenção das leis”. A figura do líder religioso tem um grande poder mobilizador, ainda mais em cidades interioranas. Suas palavras, muitas vezes, valem mais do que as das autoridades e dos familiares.

Por isso deve haver ponderação em certos assuntos, principalmente os que levam a práticas discriminatórias. O bullying nas escolas, as perseguições, os espancamentos contra homossexuais, são fatos reais que mostram o quanto essa questão deve ser debatida; o quanto esse tipo de preconceito deve ser desestimulado.

Brüno, mais recente filme do comediante Sacha Baron Cohen, ganhador do Globo de Ouro, satiriza o mundo fashion e a percepção da homossexualidade em certos grupos. Numa das cenas mais hilárias, o protagonista se encontra com um pastor que promete fazê-lo heterossexual. Quem assiste ao filme ouve com espanto os conselhos do clérigo americano. Mas as risadas constrangidas da plateia mostram que as absurdas ideias do filme podem estar mais próximas do que se imagina.