quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Por trás das cortinas

Algum desavisado que tome a imprensa local por fomentadora dos debates na cidade pode acreditar que vivemos uma calmaria em Adamantina. Uma passada de olhos pelos nossos jornais chega a dar a impressão de que os problemas do município se resumem a asfalto, trânsito, entulhos em terrenos e uma ou outra “fatalidade” de ocasião.

Adamantina tem cinco jornais, mas quantos têm a coragem de tratar do que é relevante em termos de vida pública, de atuação política? Assuntos inexpressivos, enorme espaço para publicidade, editoriais evasivos são a constante. Na falta de outras futilidades, para preencher espaço, há pouco tempo Adamantina chegou a ser santificada num dos jornais como um “celeiro de novos talentos” e como a cidade da “população mais solidária do Brasil”. Abusa-se da inteligência do leitor. Diante da expressiva verba oficial e das necessidades de comunicação da Academia, não vamos nos surpreender se um dia destes nos depararmos com um editorial com o título “Pra frente, Adamantina!”, ao modo dos piores tempos da ditadura militar.

Não se encontram nos jornais assuntos incômodos sobre o Executivo e a Academia. Isso fica claro no caso da “intervenção branca na FAI”. Há tempo se discute em Adamantina o risco da faculdade vir a ter sérios problemas financeiros. Diminuição no número de alunos, aumento exagerado de bolsas de estudo, elevadas e desnecessárias despesas de hospedagem e locomoção com professores de outras cidades seriam as principais razões. Se as finanças da faculdade vêm se deteriorando vertiginosamente como comenta a opinião pública, a população precisa saber, não só porque se trata de uma autarquia municipal, mas também porque dela a cidade depende. No entanto, nossa imprensa se limita a repassar sumárias e esquivas informações oficiais. Num dos jornais, o assunto foi veiculado por uma minúscula nota em espaço secundário, de forma até constrangedora.

Por que não se discute a (verdadeira) situação da FAI? Em recente problema ocorrido num concurso, que gerou sérias críticas a dirigentes da instituição, uma assessora afirmou que medidas foram tomadas e estavam disponíveis no site. Segundo ela, não cabia à FAI levar tais informações aos jornais. Se as pessoas públicas não prestam contas àqueles que as elegeram, cabe a imprensa desempenhar tal função. Pelo menos é assim que funciona em todas as sociedades do mundo desenvolvido.

Em Adamantina insinuam-se casos de nepotismo, corporativismo e perseguição, assim como não faltam críticas em relação a pretenso descumprimento de jornada de trabalho por parte de médicos nos postos de saúde. A omissão da imprensa colabora para que tais histórias se legitimem, num município em que há seis anos, quem agora está no poder, ganhou a preferência da população defendendo a transparência.

Por que a imprensa não diz, por exemplo, que estando em recuperação, o chefe do executivo despachou em casa durante várias semanas? Por que não se questiona a razão da vice-prefeita não ter espaço na Administração? (continuamos com a antiga prática da perseguição política?) Por que a população não foi informada de que o “deputado estadual da região”, que Adamantina ajudou a eleger com amplo apoio do professorado, votou contra o aumento salarial a todos os professores?

A população adamantinense não sabe o que ocorre por trás dessa cortina de silêncio. Não entende a situação da FAI, as intrigas do poder municipal, as desavenças entre vereadores, que tantas vezes usam a tribuna não para discutir projetos, mas para disputas pessoais.

Raras vezes os jornais assumem uma posição. Quando há algum lampejo questionador, é mais uma manifestação pessoal de quem se sente prejudicado pela Administração do que uma legítima análise em favor do bom andamento das coisas.

Não é de hoje que é assim. A pomposa verba de publicação de atos oficiais do Executivo dita as regras na informação em Adamantina, o que nos leva a acreditar que Millôr Fernandes tenha razão ao dizer que “o dinheiro fala e também manda calar a boca”.