quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O provável improvável

“Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato” (Mario Prata)


Contradição? Incoerência? Não! O improvável, em Adamantina, pode ser provável.

Ainda em 2008, uma ríspida discussão sobre a abertura do comércio aos domingos foi instaurada após manifestação de empresários. Muitos foram contra. Utilizaram de seus “poderes” e propagaram ideias – naquela época com acentuação – que a medida prejudicaria os pequenos empresários.

Das tribunas, incitaram a opinião pública e impediram a regulamentação que permitiria o direito de abertura. Mas, onde estavam as vozes do povo quando uma grande rede funcionou – solitária – aos domingos?

Improvável, mais uma vez, provável. A empresa beneficiada conseguiu autorização deste e daquele, contou com a cegueira de outros e reinou absoluta em prejuízo aos empresários locais.

Outro caso intrigante está relacionado a uma grande festa. Um evento com ótima finalidade, mas encoberto por colunas de ferro pintadas de “má intenção”. O alerta foi dado. Muitos acreditaram. Outros não. O “beneficiário”, ciente, vendou-se e dissimulou.

A festa foi um sucesso, mas, desta vez o provável não foi superado pelo improvável e o único beneficiado não foi quem de direito e muitas dúvidas ainda persistem.

Na dança das cadeiras, a busca pelo assento central foi intensa. Telefonemas, acordos, pressão... tudo ocorreu como previsto até o resultado: improvável. Aqueles que se apregoavam vencedores falharam enquanto outros comemoravam.

Em 2009, fatos importantes para o futuro da Cidade Joia estarão em pauta, mas espera-se que os resultados não sejam tão improváveis quanto os relatados acima. Que as promessas sejam cumpridas, as amizades não superem, sobremaneira, a competência. Resta aguardar e torcer para que a jiboia – agora sem acento – não se transforme em falsa coral, como a maioria de nossos políticos.

Como disse Richard Bach, escritor americano, “coisas ruins não são o pior que pode nos acontecer. O que de pior pode nos acontecer é NADA. (...) Traçamos nossas vidas pelo poder de nossas escolhas. (...) Uma pequena mudança hoje pode acarretar-nos um amanhã profundamente diferente. São grandes as recompensas para aqueles que têm a coragem de mudar, mas essas recompensas acham-se ocultas pelo tempo”.


Everton Santos é publicitário e jornalista em Adamantina

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Religião e homofobia

A Fundação Perseu Abramo divulgou recentemente um estudo sobre a percepção do brasileiro em relação à homossexualidade. Os dados são um retrato do conservadorismo nacional e da perniciosa influência do discurso tradicionalista que persiste no país, acalentado pela maioria das religiões.

Segundo a pesquisa, 58% dos brasileiros veem a homossexualidade como um pecado e 84% defendem que Deus fez o homem e a mulher com sexos diferentes para que cumpram seu papel de ter filhos. Esse entendimento, mesmo não materializado em discriminação explícita, mostra quão atrasado está o debate sobre a questão.

Ao propalarem um modelo “ideal” de organização familiar, contrária à união de pessoas do mesmo sexo, ao divórcio, aos métodos contraceptivos, tais religiões não levam em conta a complexidade das relações humanas e seguem o caminho contrário à liberdade individual. Defende-se um modelo, se não ultrapassado, no mínimo avesso às conquistas de grupos minoritários da sociedade. A defesa de dogmas e de “verdades reveladas” é um direito dos que seguem seus credos, mas não deveria estimular nenhuma espécie de discriminação, nem mesmo de forma dissimulada. Ressalte-se que 99% dos entrevistados afirmaram ter preconceito não-declarado contra lésbicas, gays, bissexuais e transexuais.

Ao defender modelos “corretos” de conduta, de família e de costumes e ao marginalizar os que não comungam tais idéias, os religiosos tendem a negar o preceito de igualdade entre os homens, que talvez seja a maior contribuição do cristianismo à humanidade. Estaria aí, portanto, nesse desrespeito às diferenças e aos direitos individuais, o cerne da maioria dos conflitos de toda a história e dos principais embates que são notícia em todo o mundo.

Não mais se queimam bruxas, hereges, homossexuais ou judeus em praça pública. Mas o fato de a Igreja Católica ter voltado a ofertar o perdão dos pecados por meio de indulgências, prática condenada por Martinho Lutero no século XVII e que consiste em anistiar o pecador da punição pós-morte por meio de pagamento ou de favor, gera a preocupação de que ressurjam certos preconceitos hoje velados no discurso dos púlpitos.

O presidente americano Barack Obama ressalta que a democracia exige que as religiões e seus adeptos traduzam suas preocupações em valores universais, e não em valores específicos de um credo. Ou seja, que as propostas e as visões de mundo defendidas pelos religiosos estejam sujeitas a discussão e sejam influenciadas pela razão. Essa é de fato uma importante condição para que se possa almejar uma sociedade mais pluralista, tolerante e igualitária.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A elite branca

A história brasileira está repleta de exemplos que confirmam o conservadorismo político e a aversão das classes dominantes a abrir espaço para outros segmentos sociais. Em nome dos “ilustrados” ou dos abastados, vistos muitas vezes como empreendedores, convencionou-se que a política deveria ter como capitães homens saídos das “boas” famílias brasileiras.

   A sanha pelo poder consolidou a crença no nosso país e também no microcosmo dele, no caso Adamantina, de que o destino da plebe deveria ser regido por aqueles que figuram no andar de cima da nossa anacrônica pirâmide social. Quem defende tal premissa pode até mesmo se ancorar nos filósofos iluministas, Voltaire e Montesquieu, por exemplo, que defendiam a igualdade social, mas não a política. A elite que assim pensa estaria amparada em grandes pensadores.

A escolha do regime monárquico e centralizador de D. Pedro I, no século XIX, já dava indícios de como seriam aqueles que assumiriam os postos públicos no Brasil. Brancos, cristãos, bacharéis. Uma terra governada por escolhidos, donos do poder por gerações, legitimados pela condição financeira ou pela pretensa intelectualidade.

Há pouco tempo um articulista de um jornal de grande circulação nacional escreveu: “É aos mais sábios e instruídos que deveria caber a suprema regência”. Esse pensamento leva em consideração apenas o saber diplomado, como se a população fosse uma criança a ser tutelada e, quando necessário, repreendida.

   Passadas duas décadas da redemocratização do Brasil, notam-se poucas mudanças. A vitória de um presidente operário cristalizou ainda mais o discurso conservador que entende a governabilidade atrelada ao capital. Os populares eleitos para cargos públicos carregam o constrangimento de ocupar um espaço que, na visão elitista, não é seu. “Bons tempos quando só os ricos votavam”, cheguei a ouvir anos atrás de uma senhora colunável de Adamantina. Observei então que, se fosse para retroceder politicamente, que se eliminasse também o voto feminino, conseguido a duras penas na década de 1930. E a conversa parou por aí.

A elite reclama, mas sabe que seus dias de hegemonia política, fundamentada no pensamento conservador e retrógado, têm data para acabar. A participação efetiva da população, por meio da fiscalização, da organização nos bairros e do contínuo acompanhamento das funções do legislativo e do executivo trará uma revolução silenciosa, porém irrevogável.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

“O PT foi passado para trás, o PT levou toco” afirma a vereadora Cleusa


Em um programa especialmente apresentado por Bruno Soares, o Cultura Livre entrevistou nesse sábado, 31/01, a vereadora reeleita do PT, Cleusa da Pastoral. A convidada, que está na Pastoral da Saúde desde 2000, filiou-se ao PT (Partido dos Trabalhadores) em 2001 e se elegeu na primeira disputa a vereança em 2002 com 680 votos. Seus principais projetos foram “Uma criança e uma árvore”, que estabelece o plantio de uma árvore para cada criança nascida em Adamantina, e “Fila do banco”, que determina apenas 15 minutos de espera para o munícipe ser atendido.

Como de costume ao entrevistar políticos da cidade, Cleusa explicou quais os motivos para ter ingressado na política adamantinense. Relatou nunca ter gostado do assunto, mas percebeu que com o trabalho social na Pastoral,de certa forma, já estava realizando esta atividade e que, como vereadora, poderia ajudar ainda mais a população. Para isto, filiou-se ao PT por causa de amigos que pertenciam ao partido e também devido à ação que essa agremiação política tem com a área social.

Quando questionada sobre sua atuação na política disse que não é perfeita e que pode se avaliar com nota 7. Acredita que evoluiu muito após 4 anos de mandato, porém tem auto-critica suficiente para saber que ainda precisa melhorar. Cleusa admitiu sua frustração na primeira experiência como vereadora por não ter conseguido aprovar o projeto da Lei do Silêncio, que regularia a atividade de carros de som, estabelecimentos noturnos, automóveis com rádios potentes e música alta em festas. O projeto perdurou desde o começo do seu mandato e não foi aprovado, segundo ela, devido à influência de pessoas que seriam prejudicadas caso a lei fosse aprovada.

Sem fugir de assuntos polêmicos, Cleusa comentou sobre o vereador e companheiro de partido Fabião. A entrevistada disse que existe algumas arestas e divergências de pensamento entre ambos e que esses problemas ainda não foram resolvidos. Relatou que mesmo estando no mesmo partido, ambos tomam posições independentes e não O votam em conjunto. Já sobre a possível influência política do Pe. Nelson no PT, disse que o considera como um conselheiro por sua inteligência e experiência, mas que ele não interfere diretamente nas suas decisões como vereadora.

O bate papo ficou mais acalorado quando foi abordado as negociações políticas sobre a sua possível candidatura como vice de Kiko Micheloni, fato ocorrido no ano passado. Nesse momento a vereadora afirmou que o PT foi passado para trás, pois o partido não procurou o grupo de Kiko para negociar essas questões. Segundo ela o convite partiu do próprio DEM e que após negociações resolveram fechar a questão, buscando a autorização do PT federal. Após isso, seu nome não foi aceito para ocupar a vaga de vice. Segundo Cleusa, isso ocorreu devido a um possível preconceito em torno de seu nome.

Nesse momento a vereadora relembrou a polêmica frase vinculada no Jornal da Cidade, na qual algumas pessoas teriam afirmado que ela era feia, gorda, pobre e petista, sendo assim não podendo ser candidata a vice. Cleusa afirmou que essa frase foi dita na câmara municipal e que no mesmo momento chegou a seu consentimento. Perguntada por Carolina Galdino sobre o que achava de tal afirmação deu sua opinião, na qual foi vinculada no jornal, o que gerou forte constrangimento a algumas pessoas. Mesmo assim, a vereadora afirma que o prefeito Kiko nunca teria dito essa frase, pois o conhece há anos e sabe de seu caráter. Mas não descartou a possibilidade de outras pessoas, ligadas ao governo, de terem feito tal afirmação.

Disse ainda que não se acha feia e que ser pobre não é opção. Ressaltou suas qualidades como mãe, esposa, voluntária e cidadã e criticou as pessoas que se apegam apenas a estereótipos e visões superficiais.

No final do programa, em um momento mais descontraído, comentou sobre seu visual chamativo e disse ser uma pessoa muito “colorida”. Lembrou que se sente muito feliz com a vida e que, mesmo desiludida com a política, trabalhará firme nos próximos quatros anos. Lembrou ainda os cidadãos de Adamantina que podem cobrá-la em relação a isso.