sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Falta de diálogo

O debate com a população não tem sido uma prática comum entre os que ocupam cargos na administração municipal, talvez por se sentirem mais con-fortáveis em usar eventos oficiais ou entrevistas acertadas para, mais do que responder às críticas, atacar os cidadãos que se arriscam em fazê-las. Ao adamantinense comum resta, portanto, o diálogo solitário e o risco de ser tratado como transgressor por quem, rodeado(a) de privilégios, imagina-se acima dos que pagam os impostos que lhe permitem tanta autoconfiança. Mas, na semana passada, neste mesmo jornal, algo diferente ocorreu, passando a ideia de que pode haver uma mudança de atitude de quem se regozija com o fato de se encontrar em tão confortável posição.

A população procura entender o que ocorre na Prefeitura, na Câmara e na FAI e é comum surgirem questionamentos sobre as atitudes dos que governam a cidade. Não cabe ao cidadão comum, trabalhador, cumpridor dos seus múltiplos deveres diários, buscar as informações sobre o poder público. Cabe, sim, às assessorias desses órgãos, remuneradas para tal função, prestarem os necessários esclarecimentos à comunidade. No entanto, o material produzido para a imprensa apresenta apenas características de propaganda e não esclarece os problemas que mais interessam à população.

Em 24 de janeiro o Jornal da Cidade estampou a manchete: “Arrecadação da FAI cai pelo 3º ano consecutivo”. Pelo que se sabe, não houve interesse por parte da assessoria em rebater ou explicar tal informação. Especula-se há algum tempo que o número de alunos e a receita da FAI vêm diminuindo. Cabe ao cidadão comum procurar a instituição para saber o que está acontecendo, ou seria função da assessoria explicar tais questões?

As “vozes das ruas” ainda se perguntam se era necessário pagar quase 80 mil reais para fazer o site da faculdade. O questionamento ganha relevância, pois a instituição tem um curso ligado à área. Além de evitar o gasto, a criação do site pela FAI serviria de propaganda para a instituição. E o marketing da faculdade? O slogan “Quem cursa a FAI, [sic] tem qualidade de vida” parece não deixar clara a marca de uma instituição de ensino, ou o que quer que seja. O que levaria os estudantes a se sentirem estimulados com tal propaganda?

Também não está evidente se existe algum projeto de reestruturação dos cursos de licenciatura ou estudos sobre o impacto das bolsas concedidas ao funcionalismo no orçamento da Autarquia. Sem contar a situação do curso de Direito, que gerou muitas informações desencontradas. Não cabe à direção e à assessoria esclarecerem essas questões, informarem a população sobre o que ocorre?

O acúmulo de cargos pode explicar parte da dificuldade, mas não satisfaz os cidadãos, que cobram um posicionamento mais próximo da instituição com a cidade, principalmente por meio do debate franco, já que o destino da FAI, em parte, está ligado ao da comunidade.
Por fim é preciso dizer que, como se sabe, utilizam-se expressões como “vozes das ruas”, “o que os adamantinenses não entendem” e outras mais para se remeter à ideia de opinião pública e aos questionamentos que ocorrem na população. Ao se empregar a segunda dessas expressões num artigo de opinião recentemente, esperava-se que nenhum educador de nossa academia, especialmente na área de comunicação, a entendesse no seu sentido literal.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O que os adamantinenses não entendem...

Todo início de ano a imprensa local faz previsões sobre a cidade. Recentemente um editorial já projetou 2011 repleto de boas notícias para os adamantinenses. Não se sabe se é o espírito cristão ou o estímulo oficial o que deixa esse segmento de nossa imprensa otimista nesta época, mas ficou claro que o jornal aproveitou a oportunidade para, mais uma vez, elogiar quem está no poder.

A simples transcrição de informações, na maioria das vezes oficiais, já aborrece grande parte dos que leem jornal em Adamantina. Nas raras vezes em que erros são apontados há a sensação de que o redator o faz cons-trangido, pois tece longos elogios à secretaria implicada e deixa claro que o problema não só é pontual como também logo será resolvido. Fica sempre a impressão de que tal veículo de informação não quer deixar descontente o seu maior anunciante.

Os adamantinenses não entendem, por exemplo, por que os assuntos referentes à FAI nunca são tratados com a devida importância. Há pouco tempo, um editorial classificou como “central de boatos” aqueles que, sem informações precisas, “discutem nas esquinas” os problemas da instituição. Se existem “boatos”, fica evidente a falta de esclarecimentos, seja por parte da imprensa, seja por parte da assessoria da faculdade, que raramente presta esse serviço. Possíveis contratações irregulares, falhas em concurso, gastos excessivos com site, diminuição de alunos e problemas financeiros são questões que ficaram à margem da imprensa em 2010.

A postura do legislativo é outro assunto que os adamantinenses não entendem. Causou constrangimento na reeleição do presidente da casa, conhecido defensor dos projetos do executivo, o voto de uma vereadora que sempre foi crítica em relação à administração. É também por esse tipo de incoerência que, dos nomes que se discutem para ser candidato a prefeito em 2012, nenhum vem da Câmara, ainda que nela existam edis já no segundo mandato.

Mesmo com a candidatura da situação “lançada” em cadeia de rádio, a oposição não consegue articular seus nomes. Ex-prefeitos, ex-secretários, ex-diretores, atuais mandatários, ninguém ainda conseguiu juntar meia dúzia de adeptos. Como nos últimos anos essas pessoas estiveram alheias aos importantes temas locais, agora fica estranho desejarem convencer a opinião pública de que lhes importa aquilo que por tantos e tantos anos não lhes importou.

Não entendemos também como nenhuma autoridade questiona por que Adamantina tem um dos combustíveis mais caros da região. Cidades próximas como Dracena, Junqueirópolis, Lucélia e Osvaldo Cruz têm preços muito melhores. Ou por que, mesmo com inúmeras reclamações, a temporização dos semáforos ainda não foi adequada à realidade do trânsito.

Todas essas questões mostram a incoerência entre o discurso de nossos políticos e os seus atos; o que não deixa de ser uma manifestação de desprezo pela inteligência dos cidadãos. Finalmente, vale perguntar: onde estão nossas lideranças para cobrar um pouco mais de empenho de nossos gestores públicos para melhorar a vida dos munícipes?

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O outro lado do sucesso da Expoverde

Quem passou pelo poliesportivo na última semana percebeu que a Expoverde se tornou a maior, e talvez a única, festa popular de Adamantina. Razoável número de barracas, envolvimento de diversos setores da sociedade, bom con-sumo e grande comparecimento da população. Mas o sucesso do evento mos-trou problemas de organização que talvez as belas imagens do recinto lotado não deixaram evidentes.

O grande diferencial do evento é sua gratuidade. As milhares de pessoas que entram no local, somadas às que ficam de fora por medida de segurança, quan-do os portões são fechados, geram desconforto em quem é proibido de entrar. O exagerado número de brigas mostrou que a segurança não deve ter recebido a devida atenção, nem mesmo no interior do recinto. Por sorte não ocorreram problemas mais graves, já que não houve revista todos os dias.

A desorganização das filas foi outro problema, tanto na entrada como na própria festa, gerando insatisfação aos que ficavam para trás enquanto outros passavam na frente, seja por “esperteza”, seja por “privilégio” concedido por aqueles que deveriam organizá-las. Não é de hoje que tumultos ocorrem por problemas dessa natureza.

Ficou claro também que não houve restrição à venda e fiscalização em rala-ção ao consumo de bebidas alcoólicas para menores. Essa permissividade se deu em todos os ambientes do recinto. Um evento organizado pela administra-ção pública deveria dar especial atenção a esse fato, até mesmo realizando campanhas educativas no local, envolvendo o Creres, o núcleo de psicologia da FAI e a sociedade. Mas, pelo que seu viu, não houve nenhuma preocupação nesse sentido.

A prática de rodeio na Expoverde também é contraditória, já que a proposta do evento é discutir a sustentabilidade e a cultura cidadã. Existem inúmeras críticas em relação a essa modalidade de “esporte”, principalmente quanto ao tratamento dado aos animais. O interesse de alguns não deve sobrepujar a ideia mestra do evento de, como o próprio nome diz, privilegiar o verde e todos os significados que essa palavra tem nos dias atuais. O que se notou foi o entrete-nimento e o estímulo ao consumo, e quase nada de “cultura cidadã”. O lado mercadológico teve maior expressão este ano.

De modo geral, a população de Adamantina aprova a Expoverde, ainda mais quando a cidade é tão carente de atrações populares e onde muitos não podem pagar os altos preços cobrados pelo RTA em junho. Mas o bom compareci-mento dos munícipes não deve apagar os problemas da festa e a mudança de foco ocorrida este ano. Segurança, respeito à população e conscientização so-cioambiental devem ser a meta dos organizadores. Será que, a despeito do su-cesso da festa, essa meta foi alcançada em 2010?