quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O busto do Cônego Aquino

Hoje ele está salvo. Imponente, faz parte do patrimônio histórico de Adamantina e pode descansar, sabendo que, amparado pela lei, ninguém pode retirá-lo de lá. Altivo, tranqüilo, encontra-se na Praça Deputado José Costa. Meio sem jeito, é verdade, pois o ambiente é uma homenagem a imigração japonesa em nossa cidade, e sua figura está um tanto descontextualizada no local. Contudo, pelo que passou, o busto do Cônego João Batista de Aquino está bem instalado, se levarmos em conta a contenda criada em torno de tal efígie. Poucos sabem, mas a imagem de Nossa Senhora Aparecida, instalada na entrada de Adamantina, não pode se dar ao luxo de ser a única a causar problemas em nosso município, que conta com uma história de fatos marcantes e pitorescos em sua história recente. Corria o ano de 1962 e, nesse momento, surgiu um movimento que, iniciado por seus correligionários, incentivou a população de Adamantina a requerer a colocação do busto. Bem, nada mais justo. Cônego Aquino foi prefeito de Adamantina. Contudo sem muito fazer pela administração pública, pois seus problemas de saúde o impossibilitaram de exercer as funções que o cargo exigia. Mesmo assim, talvez por sua ligação com a Igreja, instituição historicamente presente em nossa sociedade e que maneja sua pesada mão de tradições tentando impor seus dogmas e seus ícones a toda a população, a idéia ganhou força. Creio eu, que os familiares de todos os ex-prefeitos poderiam reivindicar tal honraria, mas não é hora de entrar nesses méritos. Todavia, por questões políticas e afins, Cônego Aquino, que não foi unanimidade no meio político, não teve o projeto para a instalação de sua imagem aceita pelos legisladores do momento. Mesmo assim, utilizando de medidas ‘paralelas’ o busto foi colocado no jardim da estação. Segundo Tino Romanini, Presidente da Câmara na ocasião, esse ato foi considerado autoritário e desrespeitoso frente à lei do município, pois a ‘homenagem’ foi alocada sem a autorização do poder público, levando a acreditar que alguns se colocavam acima da lei, tentando prevalecer suas convicções pessoais. Neste momento, Antônio Cescon, prefeito de Adamantina, pediu para Tino Romanini tomar as medidas legais cabíveis ao fato. Dessa forma, o busto do Cônego Aquino foi arrancado da praça, o que criou um grande desconforto frente a setores de nossa comunidade. O imbróglio durou algum tempo e, devido à grande pressão, a câmara autorizou a recolocação do busto, por meio da Lei nº 698/63. Esse fato, para alguns, mero acontecimento adamantinense, deve ser tratado com máxima atenção, quando se estão em jogo o poder público e os legisladores de nossa cidade. A lei deve ser cumprida sem restrições, atendendo sempre a todos os setores de nossa sociedade, que devem ser consultados em certas ocasiões. A ingerência da religião, em certos assuntos, não deve ser permitida, como o caso citado acima e, também, a mudança na comemoração do aniversário de nosso município, para 13 de junho, no intuito de atender pretensões político-religiosas. Por vontade de um grupo, ensinamos, erroneamente, a história de nossa cidade há muito tempo. Bem, essa é uma questão relevante e espero que muitos reflitam sobre os fatos. Os problemas, por que passaram o busto do Cônego Aquino, não podem ter sido em vão. Espero que Adamantina tenha aprendido a lição.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Uma reunião além da província...

“Sem sair da sua porta, o homem pode saber o que acontece no mundo. Sem olhar pela janela, pode ver TAO que está no céu. Quanto mais corra atrás da sabedoria, tanto menos saberá. Por isso, sem correr para um e para outro lado, o sábio compreenderá sem ver e completará sem agir.” (Lao Tse)
Neste novo tempo que se chama hoje, os desencontros fazem parte do cenário tupiniquim em terras provincianas, talvez, como sempre, para fazer a diferença em meio à mesmice de sempre, quando as pessoas procuram apenas estar e se esquecem de ser!
Assim, os anos passam para os simples mortais em nível internacional, mas, como sempre, a província continua levando as coisas como se o lado de fora nada significasse para as transformações no cenário da pós-globalização para as limitações de uma província perdida na região oeste do oeste paulista.
Mas, nem tudo reflete a mesmice de sempre, neste caso em pauta, uma reunião sem mais e sem menos, talvez, apenas uma comemoração neste novo tempo sem o tempo, todavia, o que seria da vida sem a vida, ainda, do fim sem o mesmo fim para um outro fim?
Não se sabe quando tudo começou, porém, mais do que depressa as coisas aconteceram para o lado deste ou daquele menos desavisado e perdido com suas contradições com o outro canto, tudo bem, não se pode ganhar sempre diz o dito popular tupiniquim, todavia, um outro olhar pode chamar o descuidado para fazer parte de uma mesma roda, neste caso, pode ser a descoberta de uma roda quadrada para um cientista calado pelas suas falas promessas sobre a virtude de uma moral descabida da lua com o sol numa luz de marte.
O luar provinciano destoa em noites com estrelas num céu sem fim, pode ser para o mal, mas, o bem pode aparecer neste momento e fazer a diferença para o desencontro dos astros noturnos, quando as estrelas seguem um cometa perdido em busca da eternidade do tempo sem o tempo em meio ao tempo para um outro tempo.
Quem dera estar em compasso de espera com o cenário provinciano neste meio sem início e muito menos final de alguma coisa para um momento solene em meio às desavenças do poder sem o poder local, ainda mais com as eleições chegando para o “País do faz de conta”, quando, mais uma vez, as escolhas estão nos votos e tudo pode acontecer,a te mesmo, “elle”, o desaparecido aparecer para colher alguns votos aqui e outros ali para uma reeleição além da província.
Mas, voltando à questão anterior, ou seja, de uma reunião sem mais e sem menos para sair de uma mesmice provinciana, pode-se pensar sem deixar o pensador agitar com suas palavras ao vento, se bem que, neste novo contexto, a pluralidade anda fazendo das suas pela mídia impressa, deixando assim, a transparência se tornar nebulosa pelas falsas promessas do passado, também, as marcas do discurso se perdem pelas manobras de uma perseguição qualquer para o outro lado em busca da validação popular e assim por diante, entretanto, as vozes do além ficam circulando pelas ruas e esquinas de uma quadra perdida da província.
O nome não faz a diferença desta vez, pois, são como afirma o texto bíblico, a saber “pérolas aos porcos” com uma mensagem bovina para destoar o clima neste confronto com o “franco-atirador provinciano”, aquele que, pensa que sabe de alguma coisa, porém, não sabe e muito menos, imagina alguma coisa sobre tudo e todos ao mesmo tempo...

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

The book is on the table

Alla mia nonna Idalina che non capisce inglese, solo l’italiano, dedico.
Pensei muito antes de escrever este artigo, afinal, não quero dar a impressão de ser um “crica”. No entanto, quando se trata da cultura brasileira, sinto que devo tomar uma posição do tipo Policarpo Quaresma, nacionalista extremo. A minha guerra é contra o vasto vocabulário da língua inglesa, que enfeita (realmente enfeita, pois muitas pessoas não sabem o significado de tais palavras) desde portas de banheiros (W.C.) até um dos programas de maior audiência da televisão brasileira (Big Brother).
Darei alguns exemplos das minhas últimas experiências com a língua anglo-saxã. Estava na capital paulista e ao entrar em uma pizzaria deparei-me com uma atrocidade, pois ao abrir o cardápio observei que as pizzas vegetarianas estavam assinaladas com a palavra inglesa “veggie”. Não seria melhor dizer que aquelas pizzas eram “vegetarianas”? Vamos para um segundo exemplo. Em uma ótica, de um “shopping center” de Bauru (não seria melhor centro de compras?), encontrei um grande anúncio com a foto da modelo Ana Hickman. Sob a marca do produto li o seguinte slogan: “eyewear”. Não seria melhor que estivesse escrito “moda dos olhos”? Mas não termina por aí. Ainda no mesmo “centro de compras” encontrei uma loja que estava oferecendo uma promoção de seus produtos. Ao invés de colocar a palavra portuguesa “promoção” o proprietário optou por colocar a palavra “sale”. Na hora de almoçar naquele “centro de compras” deparei-me com um restaurante que exibia a placa “chinese food”. Que tal “comida chinesa”?
Estive nos Estados Unidos e nunca vi um cardápio de restaurante oferecendo “pizza vegetariana”; lojas querendo vender, escrevendo “promoção”; restaurante chinês que oferecesse “comida chinesa”.
Não seria melhor investir na cultura brasileira, em nossa língua, que, mesmo trazida pelo colonizador europeu, tornou-se plena de brasilidade, oferecida pela mistura das raças? Por acaso o leitor lembra do último dia do folclore brasileiro? Talvez não! Alguém ainda lembra das lendas do Saci-pererê, da Mula-sem-cabeça, da Iara a mãe d'água? Com certeza lembramos mais das histórias do Halloween.
Este artigo não tem o intuito de condenar a língua inglesa ou a cultura norte-americana, que é de suma importância no mundo globalizado, mas de valorizar a nossa cultura, perdida em alguma carteira de escola. Por que qualquer nevasca nos Estados Unidos tem que ser manchete nos principais telejornais brasileiros? Por que temos que acompanhar as eleições americanas todas as noites, como se os Estados Unidos fossem parte do Brasil? Será que os americanos, todas as noites, em seus telejornais, acompanham os problemas das secas que temos no nordeste? Será que eles acompanham ansiosamente as nossas eleições presidenciais? Em agosto de 2001 fui aos Estados Unidos para fazer um curso de inglês. Chamou-me atenção o número de bandeiras norte-americanas na frente das casas. Passado um mês da minha chegada, as torres gêmeas sofreram o maior atentado terrorista da história mundial. Notei que as bandeiras norte-americanas triplicaram. Pude perceber que o sentimento cultural e patriótico pode sustentar e mudar uma nação. No caso do Brasil, ou respeitamos a nossa cultura, ou, mais uma vez, voltaremos a trocar bugigangas por ouro e pau-brasil.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Quarto escuro

Quem quer falar pouco mas dizer tudo diz apenas: “É uma vergonha!”, e o julgamento está feito. Quando digo isso, estou afirmando que o sujeito que julgo é vil, ao mesmo tempo em que dou a entender que eu não faria o que ele fez. Eis então uma sentença agradável de proferir. Acabo com o outro e me valorizo. Talvez por isso seja tão comum.
Mas, do lado de quem a vergonha atinge, ela é um assunto proibido: das grandes dores não se fala. “A vergonha”, diz Elizabeth La-Taille, “é vivida como uma profunda tristeza, por vezes até como um desespero, acompanhada do desejo de desaparecer”.
O envergonhado é pois um desmascarado. Se o mundo é um baile de máscaras, como diz Machado de Assis, o sujeito sobre quem recai a vergonha é aquele cuja máscara caiu, e para quem já não há mais lugar no “baile”. Só lhe resta então ir para o quarto escuro, abraçar o travesseiro e tentar reunir forças para voltar a se expor ao olhar alheio. Nesse sentido, o quarto escuro é um lugar fora do mundo.
Como se sabe, o supremo juiz moral é a sociedade ou mais exatamente “o povo”, que para Luigi Anolli se coloca e é sentido como um juiz objetivo e imparcial. Ele é imaginado como uma platéia de pessoas que, “de olhos bem abertos, olham para você e o espiam atrás das janelas, que comentam suas ações sem piedade, que as julgam e as criticam asperamente, que trocam entre si avaliações de condenação”.
Pedro sempre foi tido como um sujeito casto e puro, mas de repente algo acontece e ouve-se dizer que ele fez uma coisa muito feia, aí todos passam a achar Pedro um sujeito indigno; e o pior é que Pedro também.
Por isso, muitas vezes a vítima de violência moral prefere o silêncio a explicar-se. La-Taille avalia que isso decorre do fato de a pessoa, por ficar arrasada com a humilhação, passar a aceitar o que lhe é imposto. Diz ainda que tudo se dá para a pessoa como se todas as outras compartilhassem do julgamento [e isso torna demolidora a acusação].
O oposto da vergonha parece ser o orgulho. Enquanto o orgulhoso se exibe, o envergonhado se esconde; um ama os refletores; o outro, o quarto escuro que, tão logo se dá o vexame, convida: “Vem aqui, vem morrer um pouquinho...” E o sofredor vai se derreter nas sombras, como se aqueles de quem ele foge não fossem feitos da mesma fraqueza e jamais passariam pelo mesmo apuro.

Desligamento do Blog

Texto enviado por Rubens Galdino ao administrador do Blog Ágora Adamantinense:
'Por não concordar com atitudes anti-democráticas e covardes daqueles que utilizam o anonimato, peço retirada de meu nome desse blog. Agradeço a todos que, de alguma forma, contribuiram, com suas observações e críticas, para meu crescimento intelectual e ético'.
Abraços, com apreço,
Rubens Galdino

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Candidato sofredor

Brasileiro, sofrido, sem cultura e iludido
Candidato desalinhado, esperançoso e trabalhador
Poucas posses, poucas alegrias, muitas mágoas e esquecido
Tristonho, abatido, ainda assim lutador.

Face marcada pelo tormento da indecisão
Sem sorte nem norte, não aceita renunciar
Sabe que poucos votos não ganham eleição
Candidato teimoso, não chora e não vai chorar.

A miséria mora ao lado, seus vizinhos passam fome
A leishmaniose matou seu cachorro, feriu seu coração
Sabe que natimortos são anjos sepultados sem nome
Candidato abandonado, castigado pela solidão.

Ser de outro mundo, vive em penitência
Faz campanha sozinho, sem ajuda nem santinho
Candidato errante, luta com insistência
Depois de perder tudo, buscará outro caminho.

Candidato sofredor, com suas mágoas e sua dor
No final ficarão poucos pertences, quase tudo acabou
Restarão a família e o recado que a urna mandou
Para um lugar desconhecido, vai o candidato sofredor.

Candidato sofredor, sofredor sem destino
Derrotado na política, agora é visto como estorvo
Daqui a quatro anos, não pensará mais como menino
E nem em sonho será candidato de novo.

Obs: Apesar das mudanças ocorridas na legislação eleitoral terem reduzido as dificuldades dos candidatos mais humildes, o poder econômico continua sendo o grande divisor de águas em eleições municipais. Prova disso são os pretendentes ao cargo de vereador com menores chances de sucesso nas urnas. Esses, além de serem menosprezados pelos amigos, também são preteridos dentro do partido a que pertencem.
Assim, espero que “Candidato sofredor”, além de render algumas críticas a este pobre articulista, também sirva de reflexão aos coordenadores de campanha. Afinal, os poucos votos dos “sofredores” ajudam eleger pessoas privilegiadas.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A religião e o espaço público

Certos temas são classificados pela sociedade brasileira como não passíveis de discussão e posicionar-se em alguns desses casos denota liberdade intelectual, abertura ao diálogo e respeito às diferenças. Partindo desse pressuposto, dois fatos ocorridos recentemente colocam no cerne do debate a influência e a participação religiosa em políticas públicas e no direcionamento de verbas a favor dessa ou daquela crença, o que não pode passar despercebido e sem uma mínima reflexão por parte da sociedade. Refiro-me aos casos da polêmica imagem de Nossa Senhora Aparecida em Adamantina e da discussão sobre a entrega da pílula anticonceptiva, conhecida como ‘pílula do dia seguinte’, no carnaval pernambucano, o que causou a ira da Igreja Católica daquele estado. Antes de qualquer coisa devemos salientar que o Estado brasileiro é laico, significando assim que não há religião oficial e que todas as crenças têm direitos iguais perante a legislação do país. Analisando por essa ótica me posiciono a favor da retirada da imagem da santa da entrada da cidade, pois esta se caracteriza como uma arbitrariedade de seus idealizadores em relação às outras religiões que não compartilham da mitologia religiosa defendida pelo catolicismo. O culto em ambiente privado não representaria nenhuma agressão, afinal é de extrema importância a livre expressão religiosa de cada cidadão, o que no caso de Adamantina não se enquadra, pois dinheiro público foi usado na confecção e instalação da imagem. O contribuinte adamantinense pode sim sentir-se lesado contra tal ato, pois ele participa indiretamente da promoção de um ícone religioso de qual a fé ele não professa e por isso não precisa estar disposto a pagar por ele. Essa discussão poderia abranger também o caso do crucifixo que se encontra na câmara de vereadores da cidade, a réplica do Cristo Redentor e de outras imagens em prédios públicos, pois ferem a constituição e se tornam uma imposição ao culto católico, algo abolido no Brasil desde a primeira constituição republicana de 1891. Certamente, a esmagadora maioria dos adamantinenses está na religião católica e há ainda outros que, mesmo em outra crença, simpatizam com a imagem e seu simbolismo, todavia, devemos lembrar que uma verdadeira democracia não é a ditadura da maioria e sim o respeito pela multiplicidade e a defesa dos menos representados. Essa visão enquadra-se também no caso da distribuição gratuita da pílula no carnaval de Recife, alvo de duras críticas da Igreja daquele estado que, por incrível que pareça, tenta mudar a decisão da secretaria e proibir essa medida pública de saúde. Católicos, evangélicos, espíritas e outros, devem sim entrar no debate sobre as questões político-sociais do país e devem também defender suas bandeiras morais e éticas, isso é incontestável. Contudo, é inadmissível que a Igreja, usando de seu alto poder representativo na política, queira interferir e modificar, a seu bel prazer, as medidas de prevenção adotadas por esta ou aquela cidade. Os cidadãos e turistas de Recife, assim como os adamantinenses, não são obrigados a conviver e aceitar qualquer tipo de ingerência religiosa em suas vidas, tanto em medidas de saúde pública quanto em ícones em locais também públicos. O ato de usar ou não a camisinha, defender ou não o aborto, usar ou não a pílula, ostentar ou não um símbolo religioso, deve se manter em caráter privado ou ser colocado em debate no momento adequado, sempre atento a todas as vozes discordantes e mediados por um órgão competente para isto, e não ser imposto, com o pretexto de ser a voz e a vontade de uma pretensa ‘maioria’. Espero que políticos, religiosos, pessoas públicas e os cidadãos comuns estejam abertos e cientes disso, e percebam que antes de sua opção particular de fé há o respeito às leis, o direito do indivíduo, o poder do Estado e o respeito às minorias, casos não levados em conta nas cidades de Adamantina e Recife. Após a correção dos desvios a religião deve manter-se estrita a seus séquitos e não imposta, por vias tortuosas, a todos os cidadãos. Dessa forma, aplaudo a decisão da justiça sobre a retirada da imagem da santa na entrada da cidade e defendo a total separação da religião em relação ao Estado, tanto das decisões políticas como dos cofres públicos.
Obs: Texto publicado no dia 8 de fevereiro - Diário do Oeste.
Levantei, novamente, a questão, pois pouco sei sobre a opinião dos adamantinenses sobre o assunto.

sábado, 9 de agosto de 2008

QUE BOM SERIA...

Se existe um ano no qual os brasileiros ficam contentes, este é o ano das eleições municipais. Tudo se transforma: o inverno de três anos de estagnação nos deixa e o sol da primavera faz surgir as flores que representam os frutos do progresso. Em todas as cidades deste país vemos o desenvolvimento, principalmente em obras que saltam aos olhos da população. De repente, todo o atraso desaparece e, em apenas um ano, o ano das eleições municipais, as cidades se transformam em verdadeiros canteiros de obras. O brasileiro, que tem memória curta, se lembra apenas do passado próximo e como em um passo de mágica, esquecendo o rigoroso inverno, se delicia com a beleza das frágeis flores da primavera.
Apenas para reforçar que o brasileiro tem memória curta, basta lembrar o caso do Sr. Ministro da Fazenda e do caseiro Francenildo. O Sr. Ministro ficou um mês nas manchetes dos principais jornais do país sendo acusado de quebrar ilegalmente o sigilo bancário do caseiro que “heroicamente” o dedurou no escândalo “casa do lobby”, o que lhe custou o cargo de Ministro da Fazenda. Vocês lembram o que aconteceu? O Ex-Sr. Ministro se elegeu deputado federal e o ex-caseiro se... Pois é, brasileiro tem memória curta mesmo, mas assim é melhor, afinal não é todo país que tem o salvador da pátria, o magnífico e extraordinário “ano das eleições”.
O meu sonho é que todos os anos fossem de eleições municipais, assim, presumo eu, anualmente as cidades receberiam os melhores investimentos, pelo menos aqueles de infra-estrutura que como as flores da primavera nos enchem de alegria. O prefeito poderia tentar se reeleger por quatro anos consecutivos, mas para isto teria que provar durante todos os anos da sua administração que ele realmente promove a estação das flores, como realmente deve ser: uma vez por ano.
Andando pelas cidades de nossa região vemos a primavera: recapeamento asfaltico, reformas de escolas e creches, praças reformadas, surgimento de parques industriais e até imagens de santos enfeitando as entradas das cidades, afinal em ano eleitoral qualquer santo ajuda. Fico contente com as flores da primavera surgindo em todo país, pena que seja apenas uma vez a cada quatro anos. Só não vemos flores todos os anos por reflexo da consciência política e educacional do povo brasileiro. Ainda bem que em Adamantina não é assim!!!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Imprensa na gaiola

Chegam rumores à Redação deste Semanário (Jornal da Cidade) de que pessoa insatisfeita com o conteúdo da “Frase da Semana”, publicada há algum tempo, pretende mover ação judicial contra o JC. Aliás, desde a semana seguinte à publicação, chegam esses rumores. Interessante observar que vêm de forma orquestrada e indireta.
Bem, primeiramente, vale esclarecer que a Frase da Semana tem autoria; segundo, ela foi publicada de acordo com as regras de edição, ou seja, à luz do contexto gerador dela. Noutras palavras, em sintonia com o pleno interesse jornalístico, de pleno conhecimento e consentimento do autor da frase. Caso tenha causado mal estar, infelizmente esse é o ônus da vida pública. Quem não quer ser incomodado, reserve-se o direito de uma vida privada.
Entende-se que esses rumores, pela insistência, soam como tentativas de intimidação ao exercício da imprensa. Reproduz-se o velho esquema de um Brasil sombrio, mais afinado às formas ditatoriais e à truculência tirânica do poder sobre àqueles que ousam contribuir para o aperfeiçoamento das instituições democráticas.
O que seria a democracia sem a imprensa livre e independente? Claro, preferem uma imprensa que se contente com verbas publicitárias e que, de forma servil, se coloque como a fala enviesada do trono. Certamente querem que a imprensa continue sendo o espelho d‘água de suas imagens caricatas à semelhança de Narciso da mitologia grega. Em vez da seriedade, preferem receitas culinárias à moda do triste período da Ditadura Militar.
Por fim, esclarece que, ao veicular a frase, não foi intenção deste macular ou ofender esse ou aquele, apenas oferecer elementos para que se entendam as relações de poder no interior da malha social e econômica de nosso município. É o mínimo que se espera de uma imprensa que quer ser instrumento de cidadania na comunidade. Qualquer tentativa de colocá-la na gaiola pode representar práticas dissimuladas de intimidação e aviltamento dos valores democráticos. O Brasil está mudando, ainda que vagarosamente, é bom lembrar disso. Precisamos mudar também...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Nietzsche e a campanha eleitoral

Nietzsche tem uma tese que bem retrata o momento que vivemos. Segundo o filósofo, a vida apresenta situações semelhantes à da criança que pela primeira vez está na praia, e ri e pula de alegria quando as ondas trazem as conchas coloridas para a areia, e chora de tristeza quando as ondas levam as conchas de volta para o mar.
Talvez seja por isso que quando recebi a notícia de que haveria só dois candidatos a prefeito na cidade, por alguns instantes, fiquei como a criança que pela primeira vez vai à praia. Explico.
No resultado das convenções parecia estar as conchas coloridas que as ondas trazem do mar. Com dois candidatos a campanha não terá cartas anônimas, baixeza que no passado entristeceu muita gente, inclusive quem de vez em quando emite opinião em artigos de jornal.
No entanto, depois percebi que as conchas coloridas iam desaparecendo com minhas divagações. Se por um lado os dois candidatos não vão manchar suas biografias com difamação, por outro, o processo eleitoral seria diferente com mais pessoas na disputa. Os eleitores teriam novas opções e os candidatos a vereador não precisariam se humilhar na busca de “apoio” pra suas campanhas.
Aí comecei a pensar também nos “especialistas” da calada da noite, que sabem entregar cestas básicas, cartas anônimas e outras coisas do gênero como ninguém. O que será dessa gente? Quem vai pagar suas contas de água e luz, seu gás e principalmente seus churrascos e suas cervejadas? Confesso que fiquei com pena dos pobrezinhos...
Seguindo esse raciocínio, outras questões que merecem ser respondidas apareceram. Como estaria o ânimo dos “marqueteiros” que nessa época costumam ganhar um dinheirinho vendendo sua “eficiente” assessoria aos candidatos mais abastados? Será que eles ficaram felizes com a conjuntura? Não tenho essas respostas, mas bem feito para eles...
Resumindo, não sei se os eleitores vão concordar comigo, mas a única coisa que posso dizer desse processo eleitoral é que está tudo bom e ao mesmo tempo está tudo ruim. E que Nietzsche vá se danar com suas conchinhas coloridas!
Obs: Conheci a tese do filósofo alemão por meio de um excelente material de sala de aula de meu mestre. Aliás, aquele de quem sou discípulo já está enjoado dos artigos estilo fim-do-mundo (que exageram na argumentação a ponto de parecer que o mundo vai acabar), surgidos na imprensa local estes dias.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Decisão de Eleitor

Começou a temporada eleitoral. Foi dada a largada para o aparecimento de mágicos de todos os tipos. Candidatos a vereador que vão de catador de papelão a empresário, de funcionário público a dono de boteco. Santinhos com os rostos dos ‘ilustres’ vão infestar a cidade. Em jogo as nove cadeiras da câmara municipal e um bom salário em relação a nossa renda per capita. Entre setenta e cinco candidatos como escolher? Ser jovem, bonito, ter curso superior, ser trabalhador, empresário, ser mulher, ser conhecido, ser experiente na política, ser honesto, apoiar sempre o prefeito, fiscalizá-lo sempre? Qual a qualidade que você considera mais importante na escolha do seu vereador? Como eleitor, o vereador, para ser considerado bom, tem que apresentar propostas concretas e não eleitoreiras, afinal, verear significa vigiar pelo bem estar e segurança dos munícipes. Um bom vereador deve utilizar de suas prerrogativas, exclusivamente, para atender o interesse público, além de agir com respeito ao executivo. Tem, também, que saber exatamente o que cada região da cidade necessita e apontar, de forma clara, objetiva e definitiva, a solução para os problemas coletivos e comunicar-se, convenientemente, com todos os setores da sociedade. É pelo voto que mudamos a sociedade, para melhor ou para pior.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O jornalismo está falindo!

O quarto poder perdeu sua capacidade de formação de consciência cidadã no Brasil. O novo contexto político está atando as mãos daqueles que deveriam ser, em sua essência, os intermediários entre os anseios da sociedade e os atos do poder público em todas as suas esferas.

As leis estão protegendo os criminosos e regulamentando a própria desmoralização do Estado, que deveria ser uma instituição impessoal e mantenedora da ordem e da ética.
Onde está o câncer que corrompe a sociedade? Na moral que imputa valores às decisões interpessoais ou na ética que agrega todas as decisões morais de um povo?

Freud deve estar dando piruetas em seu túmulo. Perdemos a noção de todos os conceitos humanos. Não sabemos mais distinguir o corretamente aceitável do legalmente correto. Bom senso e atentado violento ao pudor moral se misturaram homogeneamente.

Jornalistas e formadores de opinião sentem-se inúteis em um momento que a veiculação e publicação de denúncias não ultrapassam as mesas redondas das CPI´s. Aliás, passam do debate para a gaveta. Quem não se lembra do famoso Procurador, digo, “Engavetador Geral da República”?

O jornalismo está falindo!

O Boris Casoy foi calado e, agora, o Jabor está sendo processado. Isso para não citar os milhões de jornalistas despedidos diariamente no país por conta do famoso “voto do cabresto”, ou seria “conduta do cabresto”?

O jornalismo não mais atende às necessidades a ele imputadas, bem como as instituições públicas de investigação, punição e proteção do cidadão.
Não cabe a nós, pseudo formadores de opinião, sugerir saídas para a “baderna organizada”; até porque nossa voz não passa de uma simples musiqueta de ninar.

Talvez a “Teoria do Caos”, que apregoa a ordem em plena desordem, se incumba de anunciar a bonança. Caso contrário, continuaremos inseridos em um cenário em que os que lêem jornais continuarão não decidindo as eleições, mas sim os que limpam a b... com eles.

Léo Pereira
Jornalista Profissional Diplomado, Professor e Diretor Artístico da Rádio Nova 89 FM de Adamantina.