sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A elite branca

A história brasileira está repleta de exemplos que confirmam o conservadorismo político e a aversão das classes dominantes a abrir espaço para outros segmentos sociais. Em nome dos “ilustrados” ou dos abastados, vistos muitas vezes como empreendedores, convencionou-se que a política deveria ter como capitães homens saídos das “boas” famílias brasileiras.

   A sanha pelo poder consolidou a crença no nosso país e também no microcosmo dele, no caso Adamantina, de que o destino da plebe deveria ser regido por aqueles que figuram no andar de cima da nossa anacrônica pirâmide social. Quem defende tal premissa pode até mesmo se ancorar nos filósofos iluministas, Voltaire e Montesquieu, por exemplo, que defendiam a igualdade social, mas não a política. A elite que assim pensa estaria amparada em grandes pensadores.

A escolha do regime monárquico e centralizador de D. Pedro I, no século XIX, já dava indícios de como seriam aqueles que assumiriam os postos públicos no Brasil. Brancos, cristãos, bacharéis. Uma terra governada por escolhidos, donos do poder por gerações, legitimados pela condição financeira ou pela pretensa intelectualidade.

Há pouco tempo um articulista de um jornal de grande circulação nacional escreveu: “É aos mais sábios e instruídos que deveria caber a suprema regência”. Esse pensamento leva em consideração apenas o saber diplomado, como se a população fosse uma criança a ser tutelada e, quando necessário, repreendida.

   Passadas duas décadas da redemocratização do Brasil, notam-se poucas mudanças. A vitória de um presidente operário cristalizou ainda mais o discurso conservador que entende a governabilidade atrelada ao capital. Os populares eleitos para cargos públicos carregam o constrangimento de ocupar um espaço que, na visão elitista, não é seu. “Bons tempos quando só os ricos votavam”, cheguei a ouvir anos atrás de uma senhora colunável de Adamantina. Observei então que, se fosse para retroceder politicamente, que se eliminasse também o voto feminino, conseguido a duras penas na década de 1930. E a conversa parou por aí.

A elite reclama, mas sabe que seus dias de hegemonia política, fundamentada no pensamento conservador e retrógado, têm data para acabar. A participação efetiva da população, por meio da fiscalização, da organização nos bairros e do contínuo acompanhamento das funções do legislativo e do executivo trará uma revolução silenciosa, porém irrevogável.

4 comentários:

Anônimo disse...

O fato do povo estar no poder é muito interessante. Concordo com isto, mas continuo acreditando que políticos devem ter formação e muita, muita ideologia para ocuparem cargos públicos. Lembra dos porcos do George Orwel, em A Revolução dos Bichos?

Abraços,

Cacá

Mauro Revisor disse...

"... revolução silenciosa" ... "A participação efetiva da população, por meio da fiscalização, da organização nos bairros e do contínuo acompanhamento das funções do legislativo e do executivo...", onde tem isso, Bruno? Ou isso ainda não existe, e é apenas uma esperança do articulista?... (se você puder me explicar, por favor, não cite o novo presidente dos EUA, que, por sinal, não é exatamente negro nem formado em nenhum curso vago). Abraços.

Bruno Pinto Soares disse...

Olá Cacá e Mauro,

Percebo que há um certo ceticismo em relação a minha análise. Por certo há um pouco de realismo e utopia em minhas linhas.

Na atual conjuntura histórica podemos desfrutar de uma liberdade e participação política nunca vista em nossos 509 anos de "surgimento" para o mundo Ocidental. Após 20 anos de Constituição democrática é pouco para divagarmos sobre o "povo ideal" em nosso país.

Não acostumados a participar efetivamente do processo político brasileiro a nação caminha a passos curtos, mas acredito que tivemos uma efetiva mudança de postura.

A eleição de homens e mulheres de diversas classes sociais, as associações de bairros, ONGs, e outras formas de articulação política dão ao povo um norte a ser seguido. Se não o ideal, o caminho.

Muitos ainda acreditam que apenas o diploma possa criar um cidadão consciente e ativo politicamente. Discordo dessa visão.

Espero que me mostrem seus pontos de vista.

Abraço

Everton Santos disse...

Grande Bruno, excelente análise.

Na minha modesta opinião, os partidos políticos dificultam a eleição de verdadeiros representantes populares, na verdade, os "eleitos" são, na verdade, pessoas adaptadas aos moldes dos "coroneis".

E o pior, quando uma pessoa de bem se elege, ou ela é "fritada" pelas forças ocultas existentes em nosso sistema ou se adequa às vontades destes e daqueles.

O problema do sistema político é que as pessoas "eleitas" aceitam as facilidades e nivelam-se aos políticos, deixando a ideologia em segundo ou terceiro plano.

Ps: submeti meu texto à analise de alguns colegas da imprensa, mas ao que parece o "quarto poder" deixou de ser marrom e assumiu o rosa!

Autorizo a pulicação. Será um prazer. Abraços.