domingo, 20 de setembro de 2009

Adamantina, 2057

Sete anos depois do famoso discurso da inauguração do Bloco de Letras Aripuanã, o ex-prefeito e ex-diretor da FAI Professor Doutor Bruno Pinto Soares tem um novo e importante desafio pela frente: foi escolhido pelos colegas imortais da Academia Adamantinense de Letras para conduzir as cerimônias de desterro das propostas do I Fórum de Desenvolvimento de Adamantina, ocorrido em 2007.

Apesar da imensa expectativa na Praça Élio Micheloni, o historiador está sereno. Nem mesmo a longa oração feita minutos atrás por um octogenário ex-vereador famoso por cansativas rezas em cadeia de rádio consegue tirar a concentração do intelectual. E é assim, calmo como um padre franciscano, que Doutor Bruno dá o sinal para que os trabalhos de desterro se iniciem.

Após cavarem o duro chão da praça, seus discípulos encontram a resistente caixinha onde foram guardadas as tais propostas de 50 anos atrás. O octogenário ex-edil propõe nova oração antes da abertura da urna, mas o mestre de cerimônias faz ouvidos moucos e ordena a abertura do recipiente. Aí o bicho pegou pra valer. Explico.

Dentro da caixa, em vez das esperadas propostas de 2007, são encontradas várias carcaças de sapos com a boca costurada. E dentro dessas bocas, o nome de políticos que comandaram a cidade no início do século. O pânico se instala. Algumas pessoas saem em debandada, inclusive o octogenário ex-vereador petista, com sua surrada bíblia debaixo do braço. Mas Doutor Bruno, senhor da situação, dá inicio a mais um memorável e esclarecedor discurso:

“Senhores, acalmem-se, por favor! Saibam que há uma explicação para esses sapos: isso ocorreu porque velhos políticos que se intitulavam oposicionistas (mas que na verdade não passavam de populistas), numa de suas costumeiras trapalhadas trocaram o recipiente das propostas elaboradas no I (e único) Fórum de Desenvolvimento de Adamantina por uma caixa contendo um despacho de macumba encomendado ao saudoso Pai Chico.”

Depois de uma pequena pausa, o historiador puxa o fôlego e retoma seu discurso, ainda para falar sobre a oposição que existiu na cidade entre 2005 e 2012.

“Se alguém foi de fato oposição naquela época, esse alguém se chamou vereadora Cleuza da Pastoral. Ao contrário dos intelectuais e dos trapalhões populistas que pareciam usar os óculos verdes dos jumentos nordestinos (truque usado para fazer os animais acharem que folhas secas eram verdes), a brava petista sempre enxergava tudo o que ocorria na cidade, tanto é que acabou se elegendo prefeita em 2012.”

Continuando seu antológico discurso, Doutor Bruno recorda como nasceu o Rio Ganges de Adamantina: “Em 2012, alguns oposicionistas populistas, ao notarem que não tinham candidato para prefeito, sofreram sérios danos de saúde. Por conta disso, em 2013, a prefeita Cleuza mandou fazer uma lagoa no córrego Tocantins, na altura do Parque dos Pioneiros, e assim criou o Ganges adamantinense. Era bonito ver o ritual purificador de almas que os oposicionistas populistas faziam naquelas águas!”

“Bonito era, mas infelizmente de nada valeu, porque a oposição populista não prosperou. Há historiadores que afirmam que o fiasco se deu por falta de lideranças no grupo, mas a verdade parece estar com os estudiosos que afirmam que a oposição daquela época deu com os burros n’água, digo, não deu certo, porque um militante não suportava o outro.” E calorosos aplausos festejam a lucidez do orador.

“Obrigado, meus amigos, e tenhamos esses sapos apenas como um legado à posteridade da atrapalhada militância oposicionista adamantinense do começo do século!” Mais uma vez acalorados aplausos de uma plateia agora já completamente tranquila e conhecedora dos fatos históricos. “É verdade, depois que o chefe-mor dos oposicionistas populistas saiu do poder, eles perderam totalmente o rumo”, concordou um dos velhinhos que descansavam na generosa sombra da estátua da prefeita de 2013-2016.

4 comentários:

Anônimo disse...

Mui querido Londrina, quando é que você vai parar de fazer essas previsões utópias e anarquistas e vai começar a lutar pelos direitos dos funcionários públicos. Não houve aumento ainda e a data-base foi há muito tempo. Para de dar uma de pai chico ou mãe Diná.

Jé Theodoro disse...

Isso foi lindo...

Bruno Pinto Soares disse...

Amigo Londrina,

Sua colocação sobre a postura da vereadora Cleusa é importante. Não que suas manifestações não devam passar por um olhar mais crítico, mas no legislativo é a única com atuação independente. E isso é salutar. O Partido dos Trabalhadores deve maior atenção à ela.

Sobre a Carta de Adamantina, vejo a idéia como um meio democrático e importante para a cidade, mas percebe-se que sua execução não é muito viável, pois as propostas são genéricas.

Espero que os colegas comentaristas contribuam com o debate e explicitem melhor suas colocações.

Grande abraço

Jé Theodoro disse...

Eu gostei do texto, achei "lindo"! Sem mais!