sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Serei eu o insensato?

Alguns devem acreditar que auto-análises são mais propícias quando a finitude nos bate a porta ou em momentos de grandes mudanças em nossas vidas, quando revemos nossas atitudes ao longo da trajetória e buscamos entender a forma como encaramos o mundo. Mas, eu, com 24 anos, começo a questionar certas posições, pois a cada dia vejo os fatos que critico serem vivenciados de forma mais intensa. Não é segredo a minha posição crítica em relação ao uso do erário público na construção de imagens religiosas. Deixo claro que não sou contra a sua veneração. Mas, entendo como desnecessário o uso indiscriminado de impostos em artigos direcionados a satisfazer a egolatria. No entanto, semana passada, foi noticiada a construção de uma imagem na cidade de Sertãozinho no valor de 1 milhão e 500 mil reais. Veja bem, mesmo que a arrecadação dessa quantia fosse alcançada de forma espontânea, entre os fiéis da cidade, não conceberia empregar um valor tão alto numa estátua religiosa. Longe se julgar a consciência de cada um, me calaria por saber que a livre iniciativa e o emprego do próprio dinheiro é um direito inalienável. O que intriga é saber que a importância de 1 milhão e 500 mil reais saíram dos cofres públicos de Sertãozinho, com o aval do prefeito e do secretário de obras. Bem, vale lembrar que esse valor poderia ser empregado na construção de cem casas populares. Ou seja, cem famílias de Sertãozinho poderiam desfrutar de uma melhoria em sua condição de vida se o dinheiro gasto na imagem fosse direcionado para a habitação. Nunca é demais mencionar que esse valor poderia ser bem empregado na educação, saúde, saneamento, entre outros. O leitor deve se perguntar: O que tenho com isso? Acredito que a consciência crítica deva ser atemporal. Deve-se fazer o exercício da reflexão a todo instante, mas não pretendo aqui direcionar as conclusões de ninguém. Continuo sem entender certas questões que não se revelam óbvias: Ostentação não está em desacordo com a tradição original das religiões? Como pregar ajuda ao próximo onde se gasta mais de 1 milhão em uma estátua? Há envergadura moral em líderes que não praticam o discurso que proferem aos seus fiéis? No meu entender, essas pessoas deveriam ser as primeiras a tecer críticas a esse tipo de empreendimento. A ética e a cidadania são ultrajadas em casos como esse. Seja um carro caro e luxuoso, desnecessário, ou mesmo uma imagem milionária, algo não encaixa com o discurso. No entanto, a insensatez e a imaturidade talvez não me deixem entender seus reais significados. Serei eu um insensato num mundo de dissimulados? Farei mais essa reflexão.

2 comentários:

Mauro Cardin disse...

Você pergunta no artigo se é um insensato. É, mas seu artigo tem tudo a ver. Rs. Abraços.

Bruno Pinto Soares disse...

Mauro,

Talvez, como você me disse, não fui muito honesto em fazer essa pergunta no início do artigo. No fundo eu sei a resposta. Mas a questão me fez refletir sobre outras questões também.

Espero não ter sido o único!

Abraço