sábado, 12 de setembro de 2009

Adamantina, 2050

Estamos em 2050. O diretor da FAI, Professor Doutor Bruno Pinto Soares, se prepara para descerrar a placa de inauguração do Bloco de Letras Aripuanã, cujas alas vão receber os nomes de três ilustres educadores adamantinenses: Alfredo Peixoto, Mauro Cardin e Luiz Carlos Galvão. O mestre de cerimônias passa a palavra para o historiador. Emocionado, Bruno Soares, que, a despeito das polêmicas religiosas da juventude, agora é chefe da Pastoral de Comunicação da igreja local, dá início a seu histórico discurso:

“Senhores, antes de qualquer coisa, quero dizer que o nome Aripuanã, com o qual batizamos o novo bloco, tem um especial significado para mim, pois, foi em Rondônia, na Reserva Indígena Aripuanã, que os dois primeiros homenageados encerraram suas brilhantes carreiras acadêmicas. Mas voltemos um pouco no tempo para que todos conheçam a história desses dois mártires da educação.

“Corria o ano de 2012 quando Mauro Cardin e Alfredo Peixoto, desanimados com o resultado das eleições municipais, adquiriram suas motos Harley Davidson, modelo chopper, e caíram na estrada rumo a um projeto pedagógico na Amazônia. O objetivo era ensinar português aos filhos dos cupuaçuzeiros que habitavam as florestas daquela região.

“Diante da distância e dos riscos da viagem, os dois gastaram várias semanas nos preparativos. Depois que ficaram prontas suas vestes de couro, que muito lembravam as de Peter Fonda e Dennis Hopper no lendário filme ‘Sem Destino’, ambos partiram para aquelas que seriam suas últimas aulas.”

Enxugando os olhos, o grande orador e inesquecível ex-prefeito Bruno Soares (gestões 2017-2020 e 2021-2024) se recorda da ciumeira que teve de enfrentar por ocasião do lançamento de sua candidatura em 2016 e explica à plateia que, já em 2009, sua vitória eleitoral houvera sido profetizada pelos dois homenageados. E, com a voz embargada, continua: “Lamentavelmente, meus amigos, ao chegarem à Reserva Aripuanã, em Rondônia, nossos heróis foram capturados por ferozes índios cintalargas.

“Levados à aldeia, ambos foram submetidos a um cruel julgamento pelos pajés da tribo que, assustados com o símbolo de bandeira pirata da jaqueta do professor Alfredo, composto de caveira e ossos cruzados, tiveram a visão de que os educadores adamantinenses seriam a reencarnação de antigos inimigos antropófagos. Os nativos decidiram então resolver a questão ao modo tradicional, ou seja, na base da borbuna (porrete usado para matar garimpeiros) .”

“Essa homenagem é mais do que justa”, observam alguns alunos. “Por que será que esses dois nunca tiveram uma chance?”, perguntam-se uns poucos professores.

Após tomar um gole d’água, Doutor Bruno retoma seu discurso, agora para exaltar o mérito do terceiro homenageado.

“E saibam, meus amigos, que o professor Galvão, apesar de pequenas diferenças no modo de agir, também foi injustiçado. A começar pela perda da direção do partido político que mais amou. Isso aconteceu bem na época em que o grande professor e emérito político lutava por grandes projetos culturais, como a aquisição de livros em hebraico, japonês, latim, coreano e javanês para a biblioteca municipal. Outra coisa, vocês sabiam que a Academia Adamantinense de Letras também foi ideia desse inesquecível educador?

“Pois é, infelizmente, o destino também aprontou com o professor Galvão, que nunca imaginou que ser o primeiro presidente de uma academia de letras como a nossa era um enorme risco para a saúde.

“Agora que todos conhecem a história de nossos homenageados, declaro inaugurado o Bloco de Letras Aripuanã e suas alas Alfredo Peixoto, Mauro Cardin e Luiz Carlos Galvão. Obrigado a todos!” A seguir, Doutor Bruno faz demoradas reverências diante das imagens de santo do recinto e manda benzer as dependências. “O tempo é o senhor da razão!”, murmura o velho padre encarregado da tarefa. “O que disse, Padre?”, indaga o erudito. “Nada, nada...”, responde o quase centenário pároco local já iniciando sua sacra missão.

2 comentários:

Anônimo disse...

Quando Londrina vai disputar um cargo politico? Adamantina precisa de gente como ele na politica. Já o galvião passou da hora de pendurar a chuteiras.

Bruno Pinto Soares disse...

Caro Londrina,

Agradeço a menção nesse belo texto. Só o tempo dirá se vc foi um visionário rs.
Certo mesmo é que tenho muito o que aprender na e com a política.

Mas o ponto de maior destaque é a indagação dos professores. Me insiro no pequeno coro: "Por que será?"

Talvez o grande Pai Chico possa consultar Lábio Úmidos para uma explicação que, no mínimo, deve ser sobrenatural e metafísica, pois mexe com Egos e forças que nós mortais pouco entendemos.

Grande abraço