sexta-feira, 27 de março de 2009

Encenações da vida real

A vida é um teatro. O mundo é o palco e nós somos atores e atrizes tentando não esquecer as falas do script que o diretor nos entregou. Mas quem é o diretor? Oras, é a sociedade. O diretor quer saber se tudo está sendo encenado como manda o texto. Afinal, se um dos intérpretes falha na sua atuação será cobrado imediatamente. “Olha lá” dirão todos, “o cara esqueceu a própria fala, é um grande mané”. Se a sua atuação for ruim, poderá inclusive perder o papel. Ficará na coxia, esperando que um dia alguém o resgate e ele possa voltar a encenar a própria história.

Em Adamantina, o nosso dia a dia, enquanto personagens desse espetáculo, acontece, no geral, da seguinte forma:
Primeiro Ato. O Ano Novo. Nos vestimos de branco e nos abraçamos, desejando paz e prosperidade, bebemos champanhe e comemos lentilha, vamos dormir e esperamos o Carnaval chegar. Frequentamos Panorama ou Lucélia. Depois da farra o diretor indica que devemos passar da comédia para o drama e nos resguardar dos pecados “desse palco”. Ficamos quarenta dias nessa situação até chegar o dia da Santa Cruz e do coelho, quando nos empanturramos de peixe e de chocolate.

Segundo Ato. Outono. O dia a dia de um misto de calor e frio toma conta do palco. Encenamos o trivial. Durante a semana muito trabalho. Nos finais de semana o esperado churrasco com os amigos, almoço com a família, restaurantes, pizzarias, bares e cafés com os mesmos atores sentados nas mesmas mesas. Ainda neste ato dedicamos homenagens às mães e aos atores trabalhadores. O maior número de casamentos entre os atores ocorre neste ato.

Terceiro Ato. Fogos de Artifício. Saudamos três atores famosos e santos com muito rojão. Comemos doces caseiros e enfeitamos as ruas para que o Mestre dos atores passe entre eles. O inverno toma conta do palco e os bois pulam na arena. As pessoas se vestem para o frio “não tão frio” e esperam que ele apareça enquanto aguardam o show do artista que pula com os bois. Adamantina faz aniversário. Ouvimos mais rojões. Uma inauguração daqui e outra dali. Montamos um palanque sobre o palco e encenamos encenações. Mais rojões.

Quarto Ato. Cachorro Louco. Neste ato os atores não costumam se casar. Quem possui um “melhor amigo do ator” costuma levar seu xodó para vacinar. Este é um momento tedioso para o palco. Estagnados, sem muita vontade de encenar, voltamos a repetir cenas do Segundo Ato: “Durante a semana muito trabalho. Nos finais de semana o esperado churrasco com os amigos, almoço com a família, restaurantes, pizzarias, bares e cafés com os mesmos atores sentados nas mesmas mesas”.

Quinto Ato. Viva a Melancia. Este é um ato interessante. Alguns dos atores não sabem como e nem por que, mas todos festejam duas datas, a “Independência do Palco” e a “República do Palco”, duas grandes encenações de “revoltas sem sangue”, a primeira de certo imperador nas margens de um riacho e a segunda de certo marechal em uma praça. Em Adamantina saudamos a primavera e todos festejam o verde. Os atores que já foram para outro palco, angelical ou infernal, são lembrados com flores, velas e melancias.

Sexto e último Ato. Festa no Palco. Com um calor infernal o palco troca o figurino e o cenário. Roupas mais leves, muita piscina e planos para receber amigos e parentes de outros palcos para um “final de encenação”. A noite do palco fica iluminada. Caminhamos pelas ruas e todos os atores gastam suas economias. Curiosamente o palco festeja o nascimento do Mestre com adereços de outros povos. Os atores comem e bebem exageradamente. Uma semana depois, as luzes dos refletores vão diminuindo. Fecham-se as cortinas. Nenhum aplauso. Abrem-se as cortinas... Primeiro Ato. O Ano Novo.

Texto escritor por Cacá Haddad

2 comentários:

Jé Theodoro disse...

Uma visão bem estreita do que acontece no mundo...considerando o autor como ator principal e unico ator no palco.

Cacá Haddad disse...

Oi Jé,

Apenas uma análise de como vivemos (ou só eu vivo?) metodicamente o nosso dia a dia.

Abraços,

Cacá