quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Bienal vs. Braz

Algum tempo atrás fui convidado para ir à Bienal do Livro. Não era um convite certo, pois apenas se restasse vaga no ônibus eu poderia fazer parte da excursão. No entanto, me empolguei com a possibilidade, já que nunca tinha ido a nenhuma e havia tempo pensava no assunto. A viagem estava sendo organizada para que professores das escolas da cidade pudessem visitar tal evento.
Sabendo do dia da partida, fiquei curioso por não ter recebido nenhuma confirmação e , torcendo para que restasse meu lugar, resolvi perguntar para quem me convidara em que pé andava a situação. Para minha surpresa a data da ida seria prorrogada mais uma semana, porque não conseguiram preencher o ônibus de 40 lugares com um grupo de professores adamantinenses e seus possíveis agregados.
Pior! Semanas depois, recebi a notícia de que não haveria mais viagem para a Bienal. Não deu certo. Não funcionou. Porque? Por partes. Eu até entendo que as pessoas são ocupadas, com sua família, compromissos, ou até trabalho levado para casa, como é comum no caso de professores. Pode haver milhares de causas plausíveis e aceitáveis.
Entretanto, a Bienal é um evento literário imenso. Proporciona contato direto com a literatura, expõe novidades e permite aquisição fácil de qualquer livro. Agora, como podemos almejar uma sociedade de grandes leitores, algo tão forte nos franceses, por exemplo, sendo que nem o professorado aprecia a literatura? O incentivo não deveria vir apenas daquele texto maçante, repetido e decorado que sempre surge quando se aproxima a temporada de vestibulares. Atitude é algo que deveria ser valorizado também.
Aposto que se fosse pra ir ao Braz, comprar toneladas de roupas e apetrechos, o ônibus lotaria e quem não fizesse reserva de vaga perderia a chance. Levariam família, convidariam amigos e no próximo dia letivo os alunos ficariam sabendo da loucura que é aquele lugar e como tem mercadoria boa e barata “como essa camiseta aqui”.

12 comentários:

Jé Theodoro disse...

Mamá, je ne parle pas francais!

Desculpe não resisti!

Mas talvez possa citar alguns motivos pelo quais talvez excursão não tenha dado certo... amazonbooks.com, sairava.com.br, americanas.com e por ai vai.

Abraço Mamá, até qual quer dia desses!

Mauro Cardin disse...

A luta num país como o nosso é pelo arroz e feijão com um pedaço de carne. O livro vem no outro extremo, das coisas fúteis e antinaturais. Antes de resolver o problema da falta de leitura, teremos de resolver todas as outras pobrezas. Abraço a todos. (Estive na bienal; ela nada mais me pareceu que um grande atacadão, com belas garotas de crachás e centenas de volumes empilhados)

Londrina disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Calma,irmão Londrina...inspire-se novamente nas palavras do seu velho mestre, caso você seja hoje um sofredor : "E o sofredor vai se derreter nas sombras, como se aqueles de quem ele foge não fossem feitos da mesma fraqueza e jamais passariam pelo mesmo apuro."
Você jamais estará num quarto escuro e jamais será um envergonhado...você é o "cara" deste blog...lógico, com o seu mestre junto...hehehehehe

Bruno Pinto Soares disse...

Belo texto Mamá.

Comungo se sua opinião, pois participei, direta e indiretamente de tal fato.

Concordo, em parte, com Mauro Cardin. Entendo que em nosso país, tão carente de questões básicas para a maioria da população, a parte cultural e, principalmente a livresca, fica no rodapé das prioridades. No entanto, não podemos aceitar essa conduta por parte do professorado.

A Bienal, pode não ser o modelo ideal de propagação de cultura, mas num país e, principalmente, numa região tão marginalizada de eventos relevantes, não devemos menosperzar tal iniciativa.

A 'classe formadora' reclama e aponta inúmeros problemas no sistema educacional brasileiro que, na maioria das vezes, esquece de olhar seu próprio umbigo.

E pensar que o convite foi feito a todas as escolas da cidade. Não conseguimos 40 pessoas. É de se pensar.

abraço

Anônimo disse...

Olá Rapazes!

Concordo em partes com todos os comentários, no entanto, fiz uma leitura mais atenciosa ao do Mauro Cardin. Tenho um projeto de Biblioteca Movél,à baixo custo, a qual funcionária no "onibus biblioteca" que pertence a prefeitura ( que sei lá a quanto tempo esta estacionado no almoxarifado)(alias uma kombi ou um fusca velho estaria de bom tamanho)e percorreria toda a zona rural e os bairros mais distantes do centro.
O projeto foi recebido com muitos sorrisos e intusiasmo...depois de dois ou três anos ainda tento descobrir em que gaveta foi "enfiado", talvés junto com o que me ofereci para dar oficinas de artes cênicas em bairros carentes(como voluntária).
Quem sabe agora eu faça um projeto de sopão..e mais talvés ainda, faça uma apresentação de circense.
Garanto que teria um monte de "professorinha" aplaudindo, como nas reuniões fechadas que acontecem na hora do "recreio"

Anônimo disse...

Cintia,

Esses projetos que você citou são muito interessantes. Vc tem um trânsito bacana na Secretaria da Cultura. O que o Acácio e o Hic falaram disso? Não abraçaram a proposta?

E o Cacá? Na época que ele foi secretário? Quais eram os projetos que ele tocava? Precisavamos reaver isso!

abraço

Anônimo disse...

Bruno,

Como eu disse; "O projeto foi recebido com muitos sorrisos e intusiasmo...depois de dois ou três anos ainda tento descobrir em que gaveta foi "enfiado", talvés junto com o que me ofereci para dar oficinas de artes cênicas em bairros carentes(como voluntária)."

São inumeros projetos, como um que é o de resgatar as cirandas nas escolas de ensino infantil e fundamental...deve estar lá com os outros...em algum lugar, onde vão as coisas que não proporciona ibope.


Entrei como voluntária na secretaria em janeiro de 2006, logo o Cacá saiu.


Mas estou ai...continuo acreditando...quem sabe um dia o papai-noel me ajude!

Abraço

Anônimo disse...

O mais revoltante é que se fossem pro Braz, realmente um ônibus seria pouco. De fato como o Jê mencionou, sites são até por vezes apropriados à aquisição dos produtos. Porém acredito que nem isso, alias, muito longe disto. É vasta a quantidade de professores que se voltam para a importância dos livros (salvam-se exceções que efetivamente encontramos). Basta presenciarmos reuniões de mestres, entre outros círculos que coloquem em seus núcleos, professores e assuntos afins. O discurso é outro, o objetivo se perdeu. Dão-se aula, tanto quanto ganha-se no mês. A proporção é a mesma. E é difícil substituir na hora do intervalo o café e a bolacha de quem ensina, como o prato de merenda de quem aprende.

Anônimo disse...

"Antes de resolver o problema da falta de leitura, teremos de resolver todas as outras pobrezas."

Mauro, se considerarmos a leitura como algo inseparável da Educação de um modo geral, fica claro que seu comentário não se atenta à raiz do problema.
Uma pergunta, como resolver todas as outras pobrezas sem a cultura , a leitura (a Educação)? Educação é a base de tudo!

Uma frase: "Os livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas..."

Mauro Revisor disse...

Ler é antinatural. O corpo refuga. Ensinar o hábito da leitura (e não a ler) é como ensinar um cavalo a aceitar cavaleiro. Uma coisa é a Educação; outra, o habito de ler, a cultura. O sujeito se forma sem nunca ter lido, sem ter aceitado o cavaleiro. A Educação freia os instintos; a leitura faz a grandeza. O sujeito quando se forma é ainda um bruto. Deixará de ser pela leitura (texto heraclítico para o comentário ficar curto).

Anônimo disse...

É isso aí Mauro.
Falou pouco mais falou bonito.
Porque vc não lança um livro?