Quem quer falar pouco mas dizer tudo diz apenas: “É uma vergonha!”, e o julgamento está feito. Quando digo isso, estou afirmando que o sujeito que julgo é vil, ao mesmo tempo em que dou a entender que eu não faria o que ele fez. Eis então uma sentença agradável de proferir. Acabo com o outro e me valorizo. Talvez por isso seja tão comum.
Mas, do lado de quem a vergonha atinge, ela é um assunto proibido: das grandes dores não se fala. “A vergonha”, diz Elizabeth La-Taille, “é vivida como uma profunda tristeza, por vezes até como um desespero, acompanhada do desejo de desaparecer”.
O envergonhado é pois um desmascarado. Se o mundo é um baile de máscaras, como diz Machado de Assis, o sujeito sobre quem recai a vergonha é aquele cuja máscara caiu, e para quem já não há mais lugar no “baile”. Só lhe resta então ir para o quarto escuro, abraçar o travesseiro e tentar reunir forças para voltar a se expor ao olhar alheio. Nesse sentido, o quarto escuro é um lugar fora do mundo.
Como se sabe, o supremo juiz moral é a sociedade ou mais exatamente “o povo”, que para Luigi Anolli se coloca e é sentido como um juiz objetivo e imparcial. Ele é imaginado como uma platéia de pessoas que, “de olhos bem abertos, olham para você e o espiam atrás das janelas, que comentam suas ações sem piedade, que as julgam e as criticam asperamente, que trocam entre si avaliações de condenação”.
Pedro sempre foi tido como um sujeito casto e puro, mas de repente algo acontece e ouve-se dizer que ele fez uma coisa muito feia, aí todos passam a achar Pedro um sujeito indigno; e o pior é que Pedro também.
Por isso, muitas vezes a vítima de violência moral prefere o silêncio a explicar-se. La-Taille avalia que isso decorre do fato de a pessoa, por ficar arrasada com a humilhação, passar a aceitar o que lhe é imposto. Diz ainda que tudo se dá para a pessoa como se todas as outras compartilhassem do julgamento [e isso torna demolidora a acusação].
O oposto da vergonha parece ser o orgulho. Enquanto o orgulhoso se exibe, o envergonhado se esconde; um ama os refletores; o outro, o quarto escuro que, tão logo se dá o vexame, convida: “Vem aqui, vem morrer um pouquinho...” E o sofredor vai se derreter nas sombras, como se aqueles de quem ele foge não fossem feitos da mesma fraqueza e jamais passariam pelo mesmo apuro.
Mas, do lado de quem a vergonha atinge, ela é um assunto proibido: das grandes dores não se fala. “A vergonha”, diz Elizabeth La-Taille, “é vivida como uma profunda tristeza, por vezes até como um desespero, acompanhada do desejo de desaparecer”.
O envergonhado é pois um desmascarado. Se o mundo é um baile de máscaras, como diz Machado de Assis, o sujeito sobre quem recai a vergonha é aquele cuja máscara caiu, e para quem já não há mais lugar no “baile”. Só lhe resta então ir para o quarto escuro, abraçar o travesseiro e tentar reunir forças para voltar a se expor ao olhar alheio. Nesse sentido, o quarto escuro é um lugar fora do mundo.
Como se sabe, o supremo juiz moral é a sociedade ou mais exatamente “o povo”, que para Luigi Anolli se coloca e é sentido como um juiz objetivo e imparcial. Ele é imaginado como uma platéia de pessoas que, “de olhos bem abertos, olham para você e o espiam atrás das janelas, que comentam suas ações sem piedade, que as julgam e as criticam asperamente, que trocam entre si avaliações de condenação”.
Pedro sempre foi tido como um sujeito casto e puro, mas de repente algo acontece e ouve-se dizer que ele fez uma coisa muito feia, aí todos passam a achar Pedro um sujeito indigno; e o pior é que Pedro também.
Por isso, muitas vezes a vítima de violência moral prefere o silêncio a explicar-se. La-Taille avalia que isso decorre do fato de a pessoa, por ficar arrasada com a humilhação, passar a aceitar o que lhe é imposto. Diz ainda que tudo se dá para a pessoa como se todas as outras compartilhassem do julgamento [e isso torna demolidora a acusação].
O oposto da vergonha parece ser o orgulho. Enquanto o orgulhoso se exibe, o envergonhado se esconde; um ama os refletores; o outro, o quarto escuro que, tão logo se dá o vexame, convida: “Vem aqui, vem morrer um pouquinho...” E o sofredor vai se derreter nas sombras, como se aqueles de quem ele foge não fossem feitos da mesma fraqueza e jamais passariam pelo mesmo apuro.
30 comentários:
Caro Mauro.
Você falou tanto em baile, que fui obrigado a fazer uma consulta em meu novo livro de cabeceira. E lá está: "Em baile de cobra, sapo não dança". Pelo jeito isso está acontecendo em nossa cidade.
Abraços.
Parabéns Mauro.
Belo diagnóstico do blog, da cidade, da região,do mundo.
Você dividiu o bem e o mal, só nos resta saber qual é o bem e qual o mal: vergonha ou orgulho?
Quem é o sapinho do baile? É o coitado do professor que retirou o artigo do blog? E quem são as cobras que comandam o baile?
Mauro excelente artigo
Li algumas notas da Elisabeth e do Yves de La Taille, é fiquei assustado como eles analisam, principalmente os jovens em relação a política,A mercantilizacão das relações no qual o jovem só interessa quando pode oferecer ou proporcionar algo em troca,um sempre vê como ameaça ao outro ,você leu a pesquisa inteira deles?é que não li e queria me aprofundar mais sobre esse estudo.
Olá Mauro,
Seus textos, sempre metafóricos, nos dão margem a inúmeras interpretações e indagações.
Leio suas linhas como se houvessem brumas que criassem formas diferentes a cada momento. Acredito que muitos interpretarão esse texto de forma pessoal, partindo de sua própria realidade.
Esse artigo, em minha humilde análise, se comporta como aquela nuvem longínqua, que hora parece um carneirinho, hora uma bela raposa. Bem, a fauna é variada e a escolha foi aleatória!
De qualquer maneira acredito que muitos correm para seus quartos escuros e abraçam seus ursinhos de pelúcia, não por vergonha, mas sim por covardia.
A maior de todas as lições que aprendi nesse blog é que nossa cidade está cheia de 'Narcisos' e 'Pedros'. Uns não se expõem por medo dos pares, medo do crivo alheio. Outros, por simples falta de competência. Apesar de não aimitirem.
Grande abraço
Parece que o professor não agüentou algumas criticas, fugir da critica é ser antidemocrático. Não vendaremos nossos olhos sobre o errado.
Neste baile de mascaras umas caem outras não, mas o importante é participar do baile.
Diga o que tenha a dizer, acaba sendo o tinha que ser, esqueça isso tanto faz,ande não olhe pra traz ,olhe por onde anda, faça o que o coração manda.
Professor você já tentou varrer a areia da praia, já ficou no espelho rindo sozinho da sua cara, já dormiu sem ninguém num canto de rodoviária, já dormiu com alguém por migalhas. Palavras professor Galdino são apenas palavras certas ou erradas isso é democracia.
"índio jaragua", quem é você? Não é qualquer pessoa que sabe que "antidemocrático" não leva hífen. Um professor de português, talvez? Te acho brilhante, mas um pouco cruel...
A carnyx tocou meu caro Mauro, sou Math, filho de Sucellos, procure por mais de 3000 tumbas e encontrara quem sou.
Mauro tenho certeza que o indio é o Professor Gilson..... esses enigmas é a cara dele.
Apareceu um oráculo, me chame de bruxo nunca um fariseu.
GOSTARIA DE SABER NOTICIAS DE ALGUNS GENERAIS LEGIÃO ROMANA ADAMANTINUS. SE ALGUEM SOUBER POR ONDE ANDA OS EX-COMANDANTES: GILSUS, GALDINUS, CACAUS E LEUS, POR FAVOR PUBLIQUEM NO BLOG. AGORA SE ELES TIVEREM EM ALGUM QUARTO ESCURO, DEIXEM OS MENINOS ONDE ESTÃO. COM ELES CALADOS O MUNDO SÓ TEM A GANHAR.
DANIEL DANTAS
Dori me interimo adapare dori me ameno ameno lantiro lantiremo dori me ameno omenare imperavi ameno dimere dimere mantiro mantiremo ameno omenare imperavi emulare.
Caro Mauro.
Vosso discípulo Fábio Ortega, disse que vai requerer às autoridades municipais a construção de um novo e moderno hospital em nossa cidade. Trata-se do retiro espiritual "Escurão", que deverá ter mais ou menos 10.000 metros de área construída, isso para atender as pobres vítimas da síndrome do quarto escuro. Será que um empreendimento desse pode prosperar?
Abraços.
Escurão, Londrina essa foi muito boa rsrsrsrsrsrs...
Quero fazer um agradecimento ao Professor Mauro Cardim pelo livro entenda melhor a linguagem que ele acaba de publicar. Mauro parabéns muito bom seu livro, um abraço
- Fábio, de Elisabeth La Taille só li “Ensaio semiótico sobre a vergonha”. Sobre o jovem sempre ver o outro como ameaça, parece pra mim que este seja o “estado natural” do ser humano, que o indivíduo vai corrigindo ao longo da vida. O jovem mostra mais isso porque ainda não teve tempo de entender que certos impulsos precisam ser domados. Talvez as pessoas mais desagradáveis sejam aquelas que (ainda) não conseguiram abafar esse “instinto”.
- Bruno, penso que todo artigo de opinião tenha uma sombra, que ora se mostra mais, ora se mostra menos. Mas essa questão tem mais a ver com o juiz do que com o réu. Se o leitor tem boa percepção, ele consegue inferir mais “delitos”. E a vergonha é um assunto incômodo.
- Obrigado a todos pelos comentários.
Hunos teu latim está péssimo, volte para o seminário.
"Sic visum Veneri; cui placet impares
Formas atque animo sub juga aenea
Saevo mittere cum joco".
Simpliciter sine capite fabula ratione personae per summa capita bona instantia se uti, non calumniae causa se aflitias ire
Para um simples mortal fica complicado traduzir cantos gregorianos
Gilson e Alfredo por favor briguem em português.
Realmente, o objetivo deste espaço democrático está sendo deixado de lado... os comentários - muitas vezes ofensivos e antidemocráticos - não debatem o tema dos artigos/textos e estão sendo utilizados para ataques e interesses pessoais...
Não vamos deixar esta bela iniciativa perder seu brilho...
Não estamos em uma anarquia, mas também estamos longe de uma ditadura!
Abraços
Everton Santos
Everton, uma alfinetada em latim é uma coisa chique, chega a ser uma homenagem ao adversário, por admitir que ele domine tão nobre idioma, coisa rara hoje em dia. Portanto, atritos dessa natureza não são tão graves assim... Abração (Estou feliz pelo seu retorno.)
Grande Mauro Cardim você pensa que toda a oposição esta no seu fictício quarto escuro.
Pena que a Realidade é diferente
Só conhece o quarto escuro quem passou por lá. Parabéns Mauro. Ótimo artigo!!!
Mauro por favor escreva outro artigo, senão vamos ter que aguentar essas porcarias que o Caca escreve.
Olá profº!
Que bom que podemos contar com a tecnologia para nos comunicarmos. Mesmo esse avanço da humanidade sendo tão cruel ele diminui as distâncias...
Hoje tive a oportunidade de ler seu artigo e confesso que me vi envolta em emoções e criticidade.
Tenho apenas uma coisa a dizer O MUNDO É UM GRANDE QUARTO ESCURO! Somos todos fracos e fortes pois aprendemos a cada segundo de nossa existência.
Não compreendo bem o que acontece por ai mas uma coisa é inegável seus textos são brilhantes sobre qualquer circusntância e isso é refleto da pessoa brilhante que você é.
OBRIGADA POR VOCÊ EXISTIR e compartilhar seus pensamentos conosco.
Um grande abraço!
Jéssica, essas suas palavras são de uma aplicada ex-aluna, mas elas ajudam a animar a gente. Brigadão! Vou lhe enviar amanhã o livro que te prometi, lembra? (o Londrina está me passando seu endereço), Abração.
Aguardo com carinho o presente.
Um grande abraço! até +
Grande Mestre
Estou na divisa de Minas Gerais,mais precisamente na Serra da Canastra,e as saudades já estão batendo.Vou tirar várias fotos das igrejas,isso em homenagem ao querido Bruno da Santa.E isso é só o começo.Logo estarei em Ouro Preto,Mariana,Congonhas,Tiradentes e São João Del Rey.
Abraços
Londrina, tenha uma boa viagem, aproveite o máximo que puder, tire bastante foto, mas as de santo nem pense em mostrar pro Bruno, que, como você viu, já escreveu outra vez sobre o assunto!
Grande Londrina,
Agradeço a lembrança mas dispenso o mimo. Apenas suas histórias já bastarão.
Espero seus comentários nos textos acima. Para de ficar puxando o saco do Mauro Cardin!rs
abraço
Olá profº Mauro já recebi seu livro. Estou muito feliz com o presente agora só me resta le-lo com muito carinho e atenção.
Um grande abraço
té +
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