quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O busto do Cônego Aquino

Hoje ele está salvo. Imponente, faz parte do patrimônio histórico de Adamantina e pode descansar, sabendo que, amparado pela lei, ninguém pode retirá-lo de lá. Altivo, tranqüilo, encontra-se na Praça Deputado José Costa. Meio sem jeito, é verdade, pois o ambiente é uma homenagem a imigração japonesa em nossa cidade, e sua figura está um tanto descontextualizada no local. Contudo, pelo que passou, o busto do Cônego João Batista de Aquino está bem instalado, se levarmos em conta a contenda criada em torno de tal efígie. Poucos sabem, mas a imagem de Nossa Senhora Aparecida, instalada na entrada de Adamantina, não pode se dar ao luxo de ser a única a causar problemas em nosso município, que conta com uma história de fatos marcantes e pitorescos em sua história recente. Corria o ano de 1962 e, nesse momento, surgiu um movimento que, iniciado por seus correligionários, incentivou a população de Adamantina a requerer a colocação do busto. Bem, nada mais justo. Cônego Aquino foi prefeito de Adamantina. Contudo sem muito fazer pela administração pública, pois seus problemas de saúde o impossibilitaram de exercer as funções que o cargo exigia. Mesmo assim, talvez por sua ligação com a Igreja, instituição historicamente presente em nossa sociedade e que maneja sua pesada mão de tradições tentando impor seus dogmas e seus ícones a toda a população, a idéia ganhou força. Creio eu, que os familiares de todos os ex-prefeitos poderiam reivindicar tal honraria, mas não é hora de entrar nesses méritos. Todavia, por questões políticas e afins, Cônego Aquino, que não foi unanimidade no meio político, não teve o projeto para a instalação de sua imagem aceita pelos legisladores do momento. Mesmo assim, utilizando de medidas ‘paralelas’ o busto foi colocado no jardim da estação. Segundo Tino Romanini, Presidente da Câmara na ocasião, esse ato foi considerado autoritário e desrespeitoso frente à lei do município, pois a ‘homenagem’ foi alocada sem a autorização do poder público, levando a acreditar que alguns se colocavam acima da lei, tentando prevalecer suas convicções pessoais. Neste momento, Antônio Cescon, prefeito de Adamantina, pediu para Tino Romanini tomar as medidas legais cabíveis ao fato. Dessa forma, o busto do Cônego Aquino foi arrancado da praça, o que criou um grande desconforto frente a setores de nossa comunidade. O imbróglio durou algum tempo e, devido à grande pressão, a câmara autorizou a recolocação do busto, por meio da Lei nº 698/63. Esse fato, para alguns, mero acontecimento adamantinense, deve ser tratado com máxima atenção, quando se estão em jogo o poder público e os legisladores de nossa cidade. A lei deve ser cumprida sem restrições, atendendo sempre a todos os setores de nossa sociedade, que devem ser consultados em certas ocasiões. A ingerência da religião, em certos assuntos, não deve ser permitida, como o caso citado acima e, também, a mudança na comemoração do aniversário de nosso município, para 13 de junho, no intuito de atender pretensões político-religiosas. Por vontade de um grupo, ensinamos, erroneamente, a história de nossa cidade há muito tempo. Bem, essa é uma questão relevante e espero que muitos reflitam sobre os fatos. Os problemas, por que passaram o busto do Cônego Aquino, não podem ter sido em vão. Espero que Adamantina tenha aprendido a lição.

12 comentários:

Mauro Cardin disse...

Bom escriba, sabe escrever e assume uma posição, até com uma certa elegância. Mas desta vez tenho uma crítica: é um artigo de opinião ou uma crônica? Penso também que um texto para ser lido em monitor não deva passar de 400 palavras, 420 quando curtas (Word: Arquivo, Propriedades, Estatísticas). A verdade fica mais bonita nua, diz Schopenhauer, e o assunto não perde o foco, digo eu, preocupado que este meu comentário seja mal entendido (um dia podemos conversar sobre a extensão ideal de textos no nosso meio, é um assunto que me preocupa) Abração.

Mauro Cardin disse...

Desculpe-me, faltou a informação de que seu texto tem 546 palavras.

Anônimo disse...

Então o Conego seria o Tiradentes de Adamantina!?!?! ...hahaha...abraços!

Anônimo disse...

Grande Heródoto

Nesse fato pitoresco de nossa cidade, arrastaram o busto do padre pelas ruas, como um troféu. Abraços.

Anônimo disse...

Mauro,

Agradeço, novamente, as observações. Havíamos conversado sobre essa questão, mas como o texto já estava no 'prelo' não tive escolha. Vou pensar melhor nessa questão, tentar ser mais sucinto. Mas vc acredita que o tamanho do texto o fez perder o foco? E sobre a temática? Vc comunga da minha opinião?

Amigo Jé, sei que o busto do cônego sofreu do mal da perseguição política de Adamantina, mas queria observar o fato por outra ótica, me posicionando em um assunto que acho caro, no caso as arbitrariedades que a religião impõe a sociedade.

Fábio, não me chame de Heródoto. Assim como o Mauro, que me chamou de Sócrates um dia desses, vejo que esses comentário são carregados de um tom jocoso. Prefiro apenas 'Bruno'.

abraço

Eros disse...

Insistente, como tal fato e efígie, deve ser a vontade de transgredir daqueles que ainda não caíram/subordinaram-se a um sistema medieval que busca manter tal hegemonia.

Anônimo disse...

Bruno,

Parabéns pelo novo visual do blog. Este macaco filósofo esta de matar.

abraços,

Cacá

Mauro Cardin disse...

Forma: as digressões (firulas estilísticas, frases para mostrar-se espirituoso, etc) desviam sim o foco, o que não me parece ajudar na defesa de uma idéia.
Conteúdo: quando as pessoas querem dizer que a massa é ignara, dizem que a educação precisa melhorar; vc não, vc diz que a massa é ignara. "Apenas" isso. Por muito menos Sócrates foi convidado a entornar o cálice. Talvez seja à má sorte do filósofo de Atenas que devemos a invenção do eufemismo.
Acredite, isto é um elogio. Abração.

Anônimo disse...

Neste meu racio símio o primata representa os políticos ou os intelectuais ?

Bruno Pinto Soares disse...

O símio, em questão, serve para os intelectuais que por aqui passam lembrarem que são meros mortais e que os animais também são seres que pensam.

Por sinal, alguns mais que muitos humanos.

abraço

Anônimo disse...

Aqui em Penapolis também foi criado um movimento chamado ágora que colhera assinaturas dos eleitores locais. Esse movimento tem como objetivo a criação de uma lei (por vontade popular, não passando pela câmara e tão pouco pelo executivo) a ser incluído na lei orgânica do município, determinando que toda a promessa de campanha se torne programa de governo municipal. O prazo dado ao prefeito eleito será de 90 dias após a posse, para que o digníssimo alcaide ponha no papel as promessas feitas durante a campanha. E ai como será lei, a coisa vai pegar. Até pode não ser um instrumento perfeito de controle da administração municipal, mas que terá maior respeito aos eleitores que o elegeram, sem dúvida, trará. Pois haverá uma cobrança mais objetiva sobre a administração municipal. Esse é sem dúvida, um exemplo a ser seguido por Adamantina. Parabéns pelo blog.

José Piacsek Neto

Anônimo disse...

Caro José,

Obrigado pela participação e, principalmente, pela idéia.

Seria interessante vc explicá-la melhor. Mande um texto no meu e-mail: brunubis@yahoo.com.br e o colocaremos nesse espaço para apreciação.

Grande abraço