segunda-feira, 14 de julho de 2008

Um problema de linguagem

As pessoas quase sempre são estimuladas a se candidatar a vereador por alguma qualidade que têm: ou porque é um conhecido esportista, ou porque é adepto da causa ambiental, ou porque ajuda os necessitados, ou porque é hábil em conseguir internações hospitalares e até por ser um sujeito legal.
Mas, uma vez eleito, o sujeito passa a fazer parte da gestão da cidade, e não apenas do esporte, do meio ambiente ou da área social. Para o município, não importa se ele sabe o nome dos 33.470 concidadãos, e sim se tem competência para o cargo. E para isso é preciso que tenha firmeza de caráter, espírito público, discernimento, habilidade de conviver com diferença de opinião, etc. Isto é, na Câmara são necessárias muitas outras virtudes: aquelas que fazem um líder. O legislador precisa ser alguém de visão e que saiba defender idéias. Um vereador que é vereador só porque prestou muitos favores no seu bairro é um estorvo.
Portanto, é natural que, para decidir em quem votar, a população consciente queira conhecer o potencial de cada candidato e que o candidato saiba mostrá-lo. O sujeito do esporte, além de dizer o que pretende fazer pela área, precisa convencer o eleitor de que está preparado para ser vereador. O mesmo se espera dos demais.
É preciso então que o candidato saiba fazer um bem fundamentado discurso com começo, meio e fim, que diga com clareza por que deseja ser vereador, como vai se relacionar com a população, qual é seu posicionamento em relação aos grandes temas locais, como pretende resolver os problemas do município...
Infelizmente, mais uma vez não se vê por parte dos partidos um esforço para habilitar os postulantes à Câmara nesse sentido. Não há a menor preocupação em debater marketing e conteúdo de campanha com os candidatos a fim de capacitá-los para que se apresentem diante do eleitorado.
Na lista de candidatos há pessoas de bom potencial para a política mas que precisam de um empurrão inicial em termos de apresentação em público (depois elas andam sozinhas). Sem essa ajuda inicial dificilmente passam pelas urnas, e nossa política não vai se renovar nem se enriquecer como se espera. “A linguagem”, diz M. Gnerre, “constitui o arame farpado mais poderoso para bloquear o acesso ao poder”; especialmente das pessoas sérias, acrescento eu, já que os “argumentos” dos politiqueiros contumazes pouco têm a ver com linguagem.

8 comentários:

Anônimo disse...

Linguagem, escrita e poder, excelente livro do Mauricio Gnerre, Mauro sabemos que emoções têm um peso considerável sobre as pessoas se candidatarem independente da convicção e racionalidade que elas tenham. Excelente artigo um abraço

Everton Santos disse...

Mauro, mais uma vez parabéns pela capacidade de expressar arte em palavras. Realmente, a política atual - mesmo não sendo mais a coronelista de outrora - continua cheia de politiqueiros. Falta participação da sociedade, principalmente dos formadores de opinião. Falta coragem, falta descência, falta ética.....

Chiquinho Toffoli disse...

Como diria Joelmir Beting: "na prática a teoria é outra". É o que ocorre na política.A maioria dos que tem todas essas condições que o Mauro escreve, estão afastados, não querem se envolver, ou às vezes se envolve "cutucando" outros a se envolverem e ficam nas esquinas criticando até mesmo esses.Então o Everton tem razão: falta coragem, descência, ética e acrescento: amor à cidade, doação, pois muita dessa gente passa por esta vida sem deixar um sinal, uma marca de que realmente esteve entre nós.

Mauro Cardin disse...

Meu bom Fábio, vejo que é você é um leitor e tanto! O livro do Maurizio Gnerre é realmente esse que você citou, que é muito bom. Explica muita coisa desta vida, inclusive a exclusão: a primeira coisa que exclui é a linguagem.
Grande Everton: o que eu reclamo no íntimo, em silêncio, é a falta de participação da sociedade. Se a política é ruim, será que a sociedade pode chegar a ser ótima? De onde vêm os políticos? De Marte, de Plutão?... O TB tem uma frase, que de tão boa que é, chego a pensar que não é dele (brincadeirinha!): "Onde dá a mosca varejeira? Num lugar limpo? Não. Onde dá o político corrupto, numa sociedade excelente?"... Talvez as coisas não sejam exatamente assim, mas muito se pode deduzir daí.
Sábio Chiquinho Tóffoli! Um dia ainda você vai ser candidato a prefeito, tenho certeza disso. Por que não? Se me aceitar de vice, é só falar com o Hélio. :o)
Obrigado a todos pelo comentário.

Anônimo disse...

Mauro,

Concordo inteiramente com suas críticas em relação a maioria de nossos postulantes ao legislativo. Contudo, acredito que há muita gente boa e politizada em nossa cidade e que poderia contribuir para o desenvolvimento de Adamantina.

Contudo, onde estão eles? Não precisamos mais de pragmatismo e menos de teoria?

Seria falta de coragem? Falta de dinheiro? Queria entender um pouco isso.

Ótimo artigo

Abraço

Anônimo disse...

Se alguém puder, leia:

Os Demônios –Fiodor Dostoievski.

Jé Theodoro disse...

Olá a todos, ando meio afastado de Adamantina e das informaç~eos cuotidianas da cidade, a informação que mais me interessa no momento é: Quem são os candidatos a vereador da cidade nessas eleições!?..Existe algum site onde eu possa consultar essa informação, ou algum amigo, dentre os varios que tenho nesse blog poderia me mandar por e-mail!?...abraços!

Sebar disse...

A política é mais do que uma arte, portanto, para se fazer política é necessário estar preparado para os desencontros do poder sacramentado pelas falsas ideologias do presente com saudades do passado sem pensar no futuro...
Sebar